Plátano Centro de Pesquisas Clínicas coordenará testes da vacina contra a gripe aviária em Pernambuco
Especialistas de todo o mundo alertam para o risco de disseminação de novas variantes do vírus da gripe aviária, como o H5N1, H5N8 e H7N9

Diante da ameaça crescente de uma nova pandemia provocada pela gripe aviária, Pernambuco se tornou um dos polos de pesquisa no Brasil para o desenvolvimento de uma vacina pioneira. O Plátano Centro de Pesquisas Clínicas coordenará os testes locais de um imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan. As pré-inscrições para voluntários interessados em participar do estudo já estão abertas.
Especialistas de todo o mundo alertam para o risco de disseminação de novas variantes do vírus da gripe aviária, como o H5N1, H5N8 e H7N9, que ganharam destaque por seu alto potencial de letalidade e capacidade de mutação.
Desde 2021, esses vírus causaram a morte de 300 milhões de aves e impactaram 315 espécies silvestres em 79 países, segundo dados globais. Em humanos, embora ainda sejam raros, os casos chamam a atenção pela gravidade: entre 2003 e 2024, houve 954 infectados em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, significativamente mais alta que a registrada durante a pandemia de COVID-19, de menos de 1%.
O alerta se intensificou em janeiro de 2025, quando a morte de um homem nos Estados Unidos por H5N1 revelou mutações no vírus que podem sinalizar adaptações para transmissões entre humanos. Esse cenário potencialmente perigoso acelerou as iniciativas para desenvolver uma vacina preventiva.
Os testes clínicos em humanos no país, para avaliar duas formulações de vacina contra gripe aviária, em caso de autorização pela ANVISA, serão conduzidos em três estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Ao todo, 700 voluntários serão recrutados, divididos igualmente entre dois grupos etários: 18 a 59 anos e 60 anos ou mais.
Os participantes receberão duas doses da vacina ou do placebo, com um intervalo de 21 dias entre as aplicações. A cada sete voluntários, apenas um receberá o placebo. Após a primeira vacinação, os participantes serão acompanhados por sete meses, período no qual serão realizadas visitas e exames para avaliar a eficácia imunológica (produção de anticorpos) e a segurança do imunizante.
Os testes incluirão uma triagem inicial para verificar o estado de saúde dos interessados, incluindo exames bioquímicos, hematológicos e sorológicos. Aqueles que atenderem aos critérios de participação terão todas as despesas de deslocamento para o local do estudo reembolsadas pelo Instituto Butantan, patrocinador da iniciativa.
A vacina em teste se apresenta como uma possível ferramenta para a criação de anticorpos eficazes contra a gripe aviária, funcionando como um pilar preventivo para evitar uma nova crise pandêmica. Os voluntários que participarem do estudo também terão a oportunidade de contribuir diretamente para o desenvolvimento do produto com potencial de salvar vidas no futuro.
Com avanços científicos e ações preventivas, espera-se conter os impactos de uma possível nova pandemia.
Rafael Dhalia, pesquisador da Fiocruz Pernambuco, diretor do Plátano Centro de Pesquisas Clínicas e membro da Academia Pernambucana de Ciências