Jones Figueirêdo Alves: a Igreja do Papa Francisco, em doze anos de pontificado
O Papa Francisco é a 266ª autoridade religiosa da Igreja Católica e o 8º Chefe de Estado do Vaticano. A cidade do Vaticano é uma cidade-estado

Há exatos doze anos (19.03.2013), a imposição do pálio e entrega do anel do pescador para o início do ministério petrino do Bispo de Roma, ocorreu na praça de São Pedro.
A entronização do Papa Francisco, depois de haver sido eleito seis dias antes, teve lugar no Dia de São José e durante a Santa Missa que celebrou, onde sua primeira Homilia foi dedicada a ele, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal.
A vocação de guardião e a esperança no pontificado
Francisco assinalou a vocação de guardião atribuída a todos nós, perante os outros e a humanidade, assim como viveu José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus e da Igreja. Afirmou:
“É ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração.
É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais.
É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!”
Nessa homilia, colocou sua permanente preocupação: “Infelizmente, em cada época da história, existem «Herodes» que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.” (...)
Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança”. Em doze anos, essa homilia é a marca indelével de seu pontificado.
“Spera” (“Esperança”), a propósito, é o título de sua Autobiografia, lançada em janeiro último pela Editora Mondari Libri, de Milão, e no Brasil pela Ed. Fontanar.
O legado e a missão do Papa Francisco
Como arcebispo, primaz da Argentina (28.02.1998), advertia: “O meu povo é pobre e eu sou um deles”. Assim é que, três anos mais tarde, então cardeal no Consistório de 21.02.2001, “convidou os fiéis a não virem a Roma para festejar a púrpura, mas a destinar aos pobres o dinheiro da viagem”.
No seu livro “Vida. A minha história através da História”, de 2024, sublinhou: “Não deve ser esquecida a lição mais importante: reler a história da nossa vida é crucial para gerar memória e transmitir algo a quem nos escuta.”
Esse exercício de discernimento, segundo ele, impõe que o mundo reflita e não cometa os erros do passado, de dores, ódios e perseguições genocidas.
Com o rito solene da abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco inaugurou, em véspera do Natal passado, o "Jubileu da esperança" (24.12.2024/06.01.2026), proclamado por sua Bula “Spes non confundit”.
Com seu tema central “A esperança não engana” (Rm 5,5), como um tempo de graça, reconciliação e renovação espiritual.
Primeiro papa jesuíta, em suas pregações, pronunciamentos e bençãos, tem sido, como bom pastor, o guia mais fiel dos seus fiéis, cristãos como filhos da Luz. Amor, esperança, caridade e unidade, são os axiomas do seu pontificado e orienta-nos “a renovação da esperança e da paz nos tempos desafiadores em que vivemos”.
A influência do Papa Francisco na Igreja Católica
O Papa Francisco é a 266ª autoridade religiosa da Igreja Católica e o 8º Chefe de Estado do Vaticano. A cidade do Vaticano é uma cidade-estado, cercada por Roma, com apenas 44 hectares de território e com população inferior a mil habitantes.
Fundada em 11.02.1929, é o grande centro espiritual de mais de um bilhão de pessoas católicas. O Estado da cidade do Vaticano abriga a Santa Sé, cúpula do governo da Igreja, chefiada pelo Papa e composta pela Cúria Romana.
Na sua mais recente e quarta Carta Encíclica, a “Dilexit nos” (“Ele nos amou”), de 28.12.2024, tratando “Sobre o Amor Humano e Divino do Coração de Jesus”, enfatiza a importância de retornar ao coração. Afirmou:
“Neste mundo líquido, é necessário voltar a falar do coração; indicar onde cada pessoa, de qualquer classe e condição, faz a própria síntese; onde os seres concretos encontram a fonte e a raiz de todas as suas outras potências, convicções, paixões e escolhas”.
Nas Encíclicas anteriores, “Fratelli Tutti” (“Todos os irmãos e Irmãs”) sobre a Fraternidade e a Amizade Social, de 03.10.2020; “Laudato Sí´, mi’ Signore” (“Louvado sejas, meu Senhor”), sobre o cuidado da Casa Comum, de 24.05.2015; e a primeira, “Lumen fidei” (“Luz da Fé), de 29.06.2013, na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, dirige-se à Igreja e a todos os fiéis, indicando a luz da fé como a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus.
Em todas, a sua eclesiologia pessoal; bem como em suas sete Exortações Apostólicas. No seu Devocional, propõe que a vida cristã seja diária, em orações, como verdadeiro apoio para a fé.
A Igreja no magistério do seu pontificado é “uma igreja pobre e para os pobres”. Fiel à palavra “Evangelho”, que significa “boa notícia”, a Igreja existe para evangelizar. Nessa concreção, o cuidado e a esperança.
Assim tem sido ele, em sua “simplicidade, despojamento e delicadeza”, na própria escolha do nome Francisco.
Jones Figueirêdo Alves é Desembargador Emérito do TJPE. Advogado e parecerista.