Taciana Danzi: O mercado de energia está mudando para além da transição energética
Com experiência nas distribuidoras de gás natural da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco, acompanhei a crescente presença feminina

O setor de energia vive um momento de transformação profunda. A busca por fontes mais limpas e eficientes não é mais uma opção, mas uma necessidade. A transição energética se consolidou como um caminho irreversível, e o gás natural tem um papel estratégico nesse processo. Como a fonte fóssil mais sustentável, ele reduz emissões e complementa a matriz energética, facilitando a expansão das renováveis e garantindo segurança no abastecimento.
Mas hoje, quero falar de uma outra mudança em curso no setor de energia – e ela merece tanta atenção quanto a transição energética. Não acontece em silêncio, mas tampouco com o barulho que deveria. O setor de energia sempre foi um ambiente desafiador, exigindo inovação, visão estratégica e resiliência.
Mas, historicamente, esses desafios foram enfrentados majoritariamente por homens. Durante muito tempo, a presença feminina em cargos de liderança era praticamente inexistente. Felizmente, esse cenário está mudando, falo disso não apenas como observadora, mas como alguém que, há 25 anos, trilha esse caminho e enfrenta os desafios de ser mulher na indústria do gás.
Com experiência nas distribuidoras de gás natural da Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e agora Pernambuco (Bahiagás, PBGás, Potigás e Copergás, respectivamente), acompanhei de perto a crescente presença feminina em posições estratégicas do setor. Embora esse avanço ainda esteja em construção, já é uma realidade em diversas empresas de energia.
Hoje, há exemplos concretos dessa transformação: a Petrobras tem uma mulher na presidência, Magda Chambriard; a Norgás, do grupo Energisa, é liderada por Débora Oliver; e nas distribuidoras estaduais de Gás Natural, mulheres ocupam cargos de diretoria, como Marina Melo Alves e Alyne Valentim Muniz, na Potigás, Eliana Bandeira, na ALGAS e Cristiane Junqueira e Gisele Barreto, na MS Gás, apenas para citar alguns exemplos. Na Copergás, essa evolução também é evidente.
Tenho a honra de ser a primeira mulher a ocupar a Diretoria Administrativa e Financeira (DAF) em mais de 30 anos de história da empresa. Mas essa não é uma conquista isolada. Hoje, mulheres lideram áreas estratégicas como Recursos Humanos, Financeiro, Contabilidade, Saúde e Segurança, Comunicação e Compliance, consolidando um movimento real de mudança e fortalecimento da diversidade dentro da companhia.
Isso não é apenas uma questão de representatividade. Empresas diversas são mais inovadoras e produtivas. No setor de energia, onde os desafios são cada vez mais complexos, diferentes perspectivas podem ser a chave para soluções mais eficientes.
]Mas essa mudança ainda enfrenta barreiras. Mulheres em cargos de liderança lidam com resistências muitas vezes veladas. São questionadas com mais frequência, precisam provar competência repetidas vezes e enfrentam um ambiente que ainda não as acolhe plenamente. A violência de gênero nesse contexto pode não ser explícita, mas está presente em microagressões diárias e na subestimação de sua capacidade de liderar grandes projetos.
Essa transformação faz parte de um movimento mais amplo, refletido também no cenário político de Pernambuco. Pela primeira vez na história, o estado é governado por duas mulheres, a governadora Raquel Lyra e a vice-governadora Priscila Krause. Esse novo contexto reforça que a ampliação de oportunidades não é apenas uma tendência, mas um processo natural e benéfico para o fortalecimento das instituições.
Mais do que uma questão de representatividade, essa mudança traz benefícios concretos. A diversidade estimula a inovação e contribui para a criação de ambientes mais produtivos e dinâmicos. No setor de energia, onde os desafios exigem soluções cada vez mais inovadoras, esse fator se torna ainda mais relevante. A transição energética demanda não apenas novas tecnologias, mas também novos olhares e formas de gestão.
Criar um ambiente mais diverso significa abrir espaço para múltiplas perspectivas e, com isso, fortalecer a capacidade de adaptação das empresas diante de um cenário em constante evolução.
O caminho está sendo pavimentado, e os avanços são inegáveis. Mas essa transformação precisa seguir adiante. É fundamental que as empresas do setor continuem promovendo iniciativas para ampliar a diversidade, criar ambientes mais inclusivos e garantir que mulheres tenham voz e espaço em todas as esferas decisórias.
*Taciana Danzi, Diretora Administrativa e Financeira da Copergás.