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João Humberto Martorelli: O mundo enlouqueceu

Onde estão os homens de bem, aqueles que guiam a humanidade? Penso que, do jeito que anda o mudo, vamos continuar produzindo asneiras...

Por JOÃO HUMBERTO MARTORELLI Publicado em 30/01/2025 às 0:00 | Atualizado em 06/02/2025 às 9:03

O parlamentar Bradfor Blackmon, do partido democrata do estado do Mississipi (Estados Unidos), apresentou um projeto de lei que propõe tornar ilegal ejaculações sem intenção de fecundar um embrião.

É para ver que não é só Trump e sua coleção de idiotices e ilegalidades - negar a cidadania a pessoas nascidas em solo americano, deportação em massa, reduzir o gênero humano apenas a dois: masculino e feminino, acabar com os critérios inclusivos de diversidade nos órgãos federais, revogar medidas de enfrentamento às alterações climáticas, transferir-mulheres trans das prisões femininas -, ou falando historicamente e rezando para que isso seja mesmo história no Brasil, e não se repita, a coletânea bolsonarista de negação da ciência, de fatos e de convicções profundamente arraigadas na sociedade brasileira, a que chamamos corriqueiramente de burrices e imbecilidades - a última bizarrice foi invocar Trump para reverter sua inelegibilidade, esqueceu a soberania do país? como fica a pátria, capitão? -, a verdade é que, em todos os campos, o atraso mental tomou conta de pensadores, congressistas, políticos e integrantes dos demais órgãos da institucionalidade, dominando também o pensamento majoritário das comunidades. O mundo está cheio de imbecis.

O parlamentar americano, ao justificar a proposta, afirma que a ideia é colocar o homem no centro do debate sobre direitos reprodutivos, sendo o projeto um protesto à forma como o debate sobre a contracepção é sempre focado na regulação dos corpos das mulheres.

Precisava ser tão estúpido? E banalizar a luta contra a criminalização do aborto? Espanta a ampla aceitação do projeto nas redes, especialmente entre os defensores da criminalização do aborto, onde reina o sectarismo e, por consequência, maior imbecilidade.

Imagino que algum dispositivo de tecnologia ainda desconhecida, mas espetacular, irá ser acoplado a todos os pênis - no Brasil, seria distribuído pelo SUS, nos Estados Unidos, com os problemas dos planos de saúde, em boa hora resgatados por Obama, mas ainda insuficientes, haveria financiamentos de longo prazo, ou verba com dotação orçamentária para distribuição gratuita -, para identificar, durante o ato sexual, especificamente, na saída dos jatos de esperma e quiçá durante todo o percurso subsequente, o esperma bem intencionado, para distingui-lo daqueles que só almejam, e ainda nem mais almejam, porque o prazer se dá na saída, o simples prazer sexual, ou rudimentarmente falando, a safadeza, a sacanagem.

Seria necessário desenvolver uma especialidade urológica para ensinar o esperma a usar prazer de sacanagem e prazer de fecundação. Na ejaculação, o esperma sacana se direciona automaticamente à bexiga, sendo expelido pela urina, enquanto o esperma com a marca de santidade fecunda a mulher.

Já começam as pesquisas, o cientista que isolar os espermas vai ganhar o Nobel. No mercado, não sei, antecipadamente, qual valeria mais, ou se o produto seria volátil, de acordo com o progressivo desenvolvimento sexual da humanidade e o humor dos investidores: haverá o investidor santo (não mais anjo), e o investidor safadinho.

Também é possível que, ao invés de Viagra, tenhamos o medicamento que purifica o esperma. Se vamos fazer filho, tá liberado, se só vamos fazer sexo, toma o medicamento antes.

O leitor sabe que estou a fazer graça. Não consigo mais tratar seriamente esse tipo de acontecimento. Parece que todos enlouqueceram, na esquerda, na direita e no centro. Não é comparável, mas tem o mesmo grau de imbecilidade o presidente reunir os ministros para baixar o preço dos alimentos.

Todos sabem que nada é possível fazer, salvo a organização correta da economia, que o efeito é de médio e longo prazo, mas gastam o seu tempo e o nosso, que, abismados, somos obrigados a ler as notícias da sandice: reunião para iludir os bobos.

Onde estão os homens de bem, aqueles que guiam a humanidade? Penso que, do jeito que anda o mudo, vamos continuar produzindo asneiras, criando pseudocultura através das redes sociais, fazendo política para a audiência, sem pensar no bem comum, adormecendo os neurônios, naturalizando comportamentos como o desse parlamentar americano durante muitos anos e talvez séculos.

E o dia chegará em que, para coibir o coito anal, novo projeto dele ou de qualquer maluco como ele, com ampla aceitação das redes, recomendará costurar o ânus da população e abrir uma via alternativa para excreção das fezes. Cirurgia disponível no SUS. É uma caricatura, mas já muito próxima da realidade.

João Humberto Martorelli, advogado

 

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