OPINIÃO | Notícia

Ingrid

Conhecedora da alma da advocacia estadual do cais ao sertão, Ingrid Zanella sabe agir em equipe e sabe que não se basta a si mesma

Por Gustavo Henrique de Brito Alves Freire Publicado em 06/01/2025 às 5:00

Em cerca de 93 anos de existência, a OAB/PE contou com notáveis mulheres Diretoras, Conselheiras e gestoras de Comissões, a começar por Nair Andrade, mas nunca com uma mulher na cadeira de Presidente, sendo de fato e de direito o rosto visível da institucionalidade. A chefe de Estado, em resumo.

Como, porém, a dinâmica ínsita ao desafio só é transformara empreendendo-se o primeiro passo, não cabe dar de ombros de que a mudança para melhor é uma utopia. Longe disso. Mudar para melhor depende de vontade e foco. Do contrário, anulamo-nos.

Extraio de Jacinta Ardern, Primeira-Ministra da Nova Zelândia entre os anos de 2017 a 2023, a análise de que “a liderança não significa necessariamente ser o mais barulhento na sala, mas sim ser a ponte, ou o que está faltando na discussão e tentar construir um consenso a partir daí”. Ao subscrever e ao me apoderar da citação, ouso aditá-la dizendo que é exatamente com as palavras citadas que defino a amiga Ingrid Zanella, primeira mulher eleita Presidente da OAB/PE: uma ponte entre as potencialidades e os consensos.

Nunca tive dúvidas, especialmente por conviver desde sempre com mulheres fortes, de que o caminho para a terra prometida da democracia plena é que as oportunidades existam para todos ou nunca haverá progresso de verdade para ninguém.

Em que pese, conforme pesquisa da McKinsey & Company divulgada em 2023, as empresas com diversidade de gênero costumem ser mais lucrativas, não nos enganemos: até bem pouco tempo, as mulheres eram consideradas inaptas ao mercado de trabalho. É imperativo reagir a isso e fazer da bandeira da paridade não um casuísmo demagógico, mas uma profissão de fé.

Escolho a representatividade de gênero não como uma agenda de cancelamento ou dominação da presença masculina, mas como um vetor de equalização, dignidade e empoderamento da mulher, para uma sociedade justa efetivamente.

Escolho a certeza de que qualquer organização que tenha mulheres a liderá-la possui condições bem mais propícias de criar redes de apoio para uma crescente fortificação desse potencial criativo, somando com o bem-estar de todas as pessoas.

No recorte para a advocacia brasileira, majoritariamente composta de inscritas do sexo feminino, continuo confiante de que a semeadura até aqui empreendida levou a uma colheita histórica, mas ainda assim limitada: das 27 Seccionais da OAB, consideradas as últimas eleições institucionais, 6 escolheram mulheres para as suas Presidências. Para as safras vindouras, há tudo para colheitas mais fartas.

Se a estrada da paridade foi projetada para ser uma estrada de mão única, sua trafegabilidade implica em um trabalho ininterrupto, o que no mapa viário dos temas jurídicos em Pernambuco encontra em Ingrid as mais alcandoradas perspectivas.

Conhecedora da alma da advocacia estadual do cais ao sertão, Ingrid sabe agir em equipe e sabe que não se basta a si mesma. Em duas gestões como coPresidente, nunca esteve em cena para dar simples satisfação ao clamor das ações afirmativas. Nunca se confinou a um gabinete, nem foi decorativa. Imprimiu seu DNA à governança oabeana. É dinâmica, olha nos olhos, empatiza, sente a dor do outro, pega na mão e segue junta.

Deixo o testemunho – como futuro decano do Conselho – de que não faltam a Ingrid as virtudes essenciais para escrever capítulos transformadores da realidade da advocacia, inclusive para além de Pernambuco. Sei que ela devotará desde o primeiro dia ao cargo de Presidente o melhor de si por uma gestão de inclusão, imbuída dos mais altos compromissos.

Ingrid é Ingrid. Não requer avalistas, intervenientes anuentes ou mentores. Sua trajetória, suas palavras e suas atitudes dirão sempre por ela. E sua eleição reverberará.

Concluo citando Amélia Earhart, pioneira da aviação americana, agraciada com a medalha “Distinguished Flying Cross” por ter voado sozinha sobre o Atlântico: “A decisão mais difícil é a de agir, o resto é mera obstinação. Você pode fazer qualquer coisa que decidir fazer. Você pode realizar mudanças e assumir o controle de sua vida. Esse é o processo e ele a sua própria recompensa”. Ingrid fará jus ao momento, pelo qual tanto se entregou e se doou. Ela merece. A OAB/PE ainda mais. Mãos à obra.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

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