Uma noite num bunker em Israel
A emoção de uma noite num bunker em hotel de Israel. Vivi esta experiência, na minha primeira viagem a Israel, no ano de 1974.....

Confesso que tenho assistido, com a maior consternação, as reportagens sobre as guerras entre Israel, Libano e os grupos Hamas e Hezbollah, deixando milhares de mortos, principalmente de civis, especialmente mulheres e crianças. Fiz cinco viagens à Terra Santa e duas ao Líbano, passando por alguns dos locais onde acontecem conflitos. Muitas das matérias falam dos bunkers, que a população de Israel usa para fugir das bombas, mísseis e foguetes.
Cercado de nações com os quais tem conflitos históricos, Israel adotou desde cedo políticas de proteção básica contra os constantes ataques desses inimigos. O país tem leis que exigem a construção desses espaços de segurança, os bunkers. Segundo dados do Ministério da Defesa israelense, existem atualmente pelo menos 2 milhões dessas estruturas no país. A TV tem mostrado inúmeros relatos de pessoas que buscam proteção nesses locais, inclusive de brasileiros.
Três anos depois da sua fundação, Israel aprovou, em 1951, uma lei de defesa civil, exigindo que todas as construções, públicas ou privadas, tivessem esses bunkers, como abrigos antibombas. Em 1991, devido ao uso de armas químicas pelo Iraque, na Guerra do Golfo, uma nova lei determinou novos padrões para essas construções, aumentando sua segurança.
Conheci muitos deles, nas visitas que fiz, em residências, hotéis e em kibutz. Inicialmente, os bunkers eram - pelo menos parcialmente -, subterrâneos. Depois, o termo passou a designar qualquer estrutura fortificada para proteção das pessoas. E foram se adaptando às leis israelitas. A de 1951 determinava que os abrigos antibombas fossem construídos no subsolo, com porta reforçada, contendo suprimentos e com sistema de ventilação. Todas as construções deveriam ter um, mas moradores próximos podiam dividir o mesmo local.
Atualmente, as regras foram flexibilizadas. O exigido é que todos os prédios ou casas tenham um espaço fortificado - pelo menos um por andar. Normalmente, é um quarto da casa ou apartamento, usado no dia a dia. Quando surge algum problema, poderosas sirenes são acionadas e as pessoas têm um minuto e meio para chegar a um desses bunkers, para se protegerem do ataque. Uma sensação, digamos, de terror.
Vivi esta experiência, na minha primeira viagem a Israel, em 1974. Fui a convite da colônia israelita de Pernambuco, organizada pelo saudoso Salomão Jaroslavsky, que era uma espécie de cônsul do país em Pernambuco. Como não havia (e ainda não há) voos diretos do Brasil para Israel, fui para Madri, embarcar para Tel Aviv num avião da El-Al, a empresa aérea de Israel. Já no aeroporto da capital espanhola, passei por uma fiscalização rigorosa. Viram meu passaporte várias vezes, fizeram muitas perguntas. E até tive que ir para uma área junto do avião, onde identifiquei minha mala, que foi aberta e passou por outra e ainda mais rigorosa revista.
Finalmente liberado, embarquei para Tel Aviv, onde fui recebido por um guia e encaminhado ao Hotel Shalom, à beira-mar. Dei uma rápida circulada pelo hotel, jantei e fui dormir. Às 22h, fui acordado com o som estridente de sirenes e pessoas batendo na minha porta. Não entendia nada do que diziam, mas como todo mundo estava correndo, vesti a roupa rapidamente e segui os outros hóspedes. Felizmente, estava no 2ª andar e pelas escadas cheguei ao bunker do hotel, no subsolo. Uma sala imensa, com camas, lençóis, ventilação, uma estrutura com café e sucos.
Encontrei um casal de judeus argentinos, que falava hebraico, e que foi traduzindo as informações.
Seria um possível ataque de Monhamed Kadaf, o líder da Líbia, em guerra com Israel. Como estava cansado da longa viagem, consegui dar alguns cochilos. O grupo, com umas 150 pessoas, ficou até as cinco horas da manhã, quando foi liberado para sair e seguiu para o café da manhã do hotel.
Foi um enorme susto, felizmente logo resolvido. O único que passei em todas essas viagens por Israel.
No dia seguinte, tudo normal na cidade. Mas não escapei, depois, na viagem, de rigorosas fiscalizações, inclusive em áreas com muitos policiais. Por 10 dias, visitei várias cidades israelenses, incluindo dois dias um kibutz, dirigido por brasileiros e que produzia frutas e verduras desidratadas, vendidas para o mundo inteiro.
Foi minha primeira - e espero que a derradeira - noite que passei num bunker.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1