O couro de bode como alternativa às baterias poluentes
O couro do bode, animal-símbolo do sertão pode entrar em breve para o rol de produtos aplicados na tecnologia de vestíveis eletrônico....
 
            A tecnologia tem feito com que muitos dispositivos eletrônicos estejam incorporados em nosso smart watch, em adesivos com chips e até mesmo em nossas camisetas. Com eles, remotamente é possível ter informações sobre nossos batimentos cardíacos, glicose, respiração, horas de sono, taxa de transpiração, entre tantos outros. Evidentemente há uma enorme questão ética sobre o uso destes parâmetros, ao ponto de se evitar por exemplo que o empregador controle o humor de seus funcionários.
Todavia, alheio a estes vieses, a ciência avança e encontra seus empecilhos. O primeiro deles é a bateria, que é rígida e tem tempo de vida útil e recarga constante. Não fossem as baterias, há bastante tempo, nossos celulares seriam dobráveis e não precisariam mais ser recarregados. A energia para alimentá-los poderia vir de outras formas como por exemplo do movimento do corpo. Os nanogeradores triboelétricos (TENGs), que fazem uso do atrito entre dois corpos, são excelentes candidatos a substitutos de baterias, uma vez que o atrito está presente em praticamente tudo o que fazemos.
Há atrito entre nossos calçados e o solo, do nosso peito contra a camisa quando respiramos, das folhas das plantas que se chocam umas contra as outras com uma rajada de vento... Instalar um nanogerador triboelétrico junto a um sensor, ou transformá-lo no próprio sensor tem trazido grandes soluções para a ciência, pois tem permitido com que se tenha dispositivos autônomos que geram a sua própria energia. Para além de toda a necessidade de menos lixo (baterias consumidas, petróleo, plástico e etc) há uma demanda crescente por equipamentos do tipo "point-of-care testing" que são plataformas de diagnóstico que vão até onde estão as pessoas.
Ao invés de levar um equipamento de centenas de milhares de reais até uma aldeia distante, os sensores autônomos podem seguir no bolso e após uma esfregada na camiseta mudam de cor para detectar mercúrio nos cabelos, no ar e no solo. O caminho até lá é longo e sinuoso, pois os TENGs ainda não dispõem de saída compatível com as baterias comerciais e a otimização dos dispositivos como geradores ou sensores requer muitos estudos. A vantagem está na natureza dos materiais que podem ser usados: enquanto que nas baterias há uma diversidade de contaminantes agressivos ao meio ambiente, nos TENGs há uma quantidade de materiais extremamente eficientes para operacionalização.
Das opções que temos explorado nos laboratórios da Univasf, uma solução viável tem sido o couro do bode - isso mesmo, o couro do animal-símbolo do sertão pode entrar em breve para o rol de produtos aplicados na tecnologia de vestíveis eletrônicos, gerando energia e sendo incorporado em sensores portáteis para as mais diversas aplicações tecnológicas. Próximos episódios dessa série em muito breve. Até lá.
Helinando de Oliveira, ffsico, professor da Univasf e vice-presidente da Academia Pernambucana de Ciências.
 
 
                     
                                                