OPINIÃO | Notícia

São Luiz: um cinema com muita história

Reaberto depois de dois anos de obras, mantendo suas características originais, o Cinema São Luiz é um dos grandes patrimônios da nossa cidade.

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 08/11/2024 às 0:00 | Atualizado em 08/11/2024 às 9:52

Fica na esquina da Rua da Aurora com a Avenida Conde da Boa Vista. No local, originalmente, funcionoua Capela Anglicana do Recife, a "Holy Trinity Church", construída em 1838 e demolida um século depois para a ampliação da Avenida Conde da Boa Vista, que antes se chamava Rua Formosa. Foi então construído o Edifício Duarte Coelho, que tem 14 andares, dos quais quatro ocupados pelo cinema e outros estabelecimentos. Foi, durante muitos anos, um dos prédios residenciais mais luxuosos da cidade, com 45 apartamentos, onde moraram muitos nomes conhecidos. Estive lá algumas vezes, para eventos na casa de Carmem Lúcia e Eduardo Lemos. Com a modernidade, especialmente por não ter garagem, perdeu sua importância, mas ainda é procurado, inclusive pela bela vista que os apartamentos possuem.

O Cinema São Luiz foi inaugurado no dia 6 de setembro de 1952 - dois anos depois de a cidade ter recebido um jogo da Copa do Mundo -, pelo Grupo Severiano Ribeiro e tinha o nome em homenagem ao seu fundado e presidente, Luiz Severiano Ribeiro. Evento reuniu os nomes de maior prestígio na nossa cidade, numa noite em traje a rigor. Entre os presentes, o governador Agamenon Magalhães e o prefeito do Recife, Jorge Martins.

 A imponência do cinema impactou os convidados para a inauguração. Ao lado da tela, dois vitrais de autoria da artista plástica Aurora de Lima, aluna de Heinrich Moser, representam jarros de flores, fazendo do São Luiz um dos poucos cinemas do mundo a ter vitrais no seu interior. No hall de entrada, um painel de Lula Cardoso

Ayres, além de grandes tapeçarias suspensas, que se cruzam no teto, dando um ar de um majestoso teatro. Bordados de flor-de-lis e dezesseis escudos de guerra fazem referência, respectivamente, ao rei Luís IX de França e às cruzadas. O piso é de mármore branco, as paredes têm revestimento em jatobá e as luminárias são em bronze.

Tudo restaurado de forma primorosa.

O primeiro filme a ser exibido foi "O Falcão dos Mares", estrelado por Gregory Peck e Virginia Mayo. O cinema, que chegou a comportar 1.340 lugares, possui dois andares, sendo um deles configurado como balcão. Hoje, por conta da acessibilidade e da ergonomia, tem apenas 800 poltronas. As Faculdades Integradas Barros Melo assumiram o cinema em 2006, com o propósito de fazer uma reforma, mantendo toda estrutura original, para transformar o espaço em centro cultural. O projeto foi abandonado em 2008, quando o prédio foi tombado como monumento histórico pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.

Durante muitos anos, o São Luiz foi um templo de elegância. Os homens eram obrigados a usar terno e gravata em todas as sessões, tendo muita gente da época

comprado o primeiro terno exatamente para ir ao São Luiz. Tivemos incontáveis sessões de pré-estreia, muitas transformadas em grandes eventos sociais. Duas sessões marcaram época. As da meia-noite, que costumavam mostrar lançamentos, sempre lotadas, pois não havia perigo nas ruas do centro. Recordo que muitas vezes, pessoas - os jovens especialmente - saíam a pé para irem tomar um maltado na "Galerias", no Recife Antigo.

Outra sessão que fez muito sucesso foi o "Bossa Jovem", às 10h dos domingos, que atraía os nomes de maior destaque na Nova Geração. Era um dos grandes points de paquera, no qual muitos casais começaram a namorar nela, que nunca passava filmes impróprios para menores de 18 anos. A maioria dos filmes era do tipo "água com açúcar". A murada do jardim em frente ganhou o nome de "Quem me Quer", pois as garotas passeavam em grupos, diante dos olhares dos rapazes. A paquera rolava solta...

A esquina do Cinema São Luiz tinha uma lojinha que dominou o mercado de discos, na época "long plays". Era "A Modinha", do empresário caruaruense Adolfo José, conhecido como "Adolfo da Modinha", hoje empresário de sucesso na sua cidade. Depois, a loja foi vendida para João Florentino, da "Aky Discos", que foi uma rede imensa, inclusive com megalojas em outras capitais.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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