O despreparo docente e as consequências para alunos neurodivergentes

O despreparo docente e a falta de inclusão escolar para alunos neurodivergentes são questões urgentes que precisam ser abordadas de forma eficaz.

Publicado em 19/10/2024 às 0:00 | Atualizado em 19/10/2024 às 10:47

Censo Escolar mostra que apenas 27,5% das escolas possuem estrutura de apoio para alunos com necessidades especiais, e a porcentagem de docentes capacitados para atender a essa demanda é ainda menor. A educação inclusiva é um tema crucial nas políticas públicas, mas a inclusão de alunos neurodivergentes — aqueles com condições como autismo, TDAH e dislexia — enfrenta desafios como a falta de recursos e o despreparo docente. Esse cenário prejudica a formação acadêmica e a integração social desses alunos, comprometendo seu desenvolvimento.

A neurodivergência refere-se a formas diferentes de funcionamento cerebral, em oposição à neurotípica. Estima-se que entre 10% e 20% da população mundial seja neurodivergente. No Brasil, o IBGE aponta que 2,6 milhões de pessoas foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 2021. No entanto, o aumento de diagnósticos não foi acompanhado por um preparo adequado no sistema educacional. Segundo o Censo Escolar de 2020, apenas 27,5% das escolas possuem estrutura de apoio para alunos com necessidades especiais, e a porcentagem de docentes capacitados para atender a essa demanda é ainda menor.

O despreparo docente é um dos maiores obstáculos à inclusão de alunos neurodivergentes. Muitos professores não recebem formação adequada para adaptar suas práticas pedagógicas a diferentes perfis de aprendizagem. A falta de capacitação leva à dificuldade de identificar as necessidades desses alunos, que frequentemente são rotulados como "indisciplinados" ou "desinteressados", reforçando sua exclusão.

Um levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) revelou que mais de 60% dos professores se sentem despreparados para lidar com alunos com transtornos do neurodesenvolvimento. Essa lacuna na formação resulta em frustração tanto para os alunos quanto para os docentes, que se sentem incapazes de oferecer o suporte necessário.

Além do despreparo docente, muitas escolas carecem de recursos materiais e humanos para apoiar alunos neurodivergentes. Mesmo com a presença de salas de recursos multifuncionais ou profissionais de apoio, a demanda é muito superior à capacidade de atendimento. A falta de suporte especializado gera a chamada "exclusão silenciosa", onde os alunos são incluídos formalmente no ensino regular, mas sem o apoio pedagógico necessário para acompanhar as atividades.

Investir na formação contínua dos professores é essencial para que eles possam adaptar suas práticas pedagógicas às necessidades dos alunos neurodivergentes. Essa capacitação deve incluir metodologias diferenciadas, como o ensino multissensorial, e uma cultura escolar mais acolhedora e flexível. Diagnósticos por si só não bastam se as escolas não estiverem preparadas para agir.

É necessário também ampliar o número de profissionais de apoio, como psicopedagogos e terapeutas ocupacionais, que possam trabalhar junto com os professores. Políticas públicas eficazes devem garantir que todas as escolas tenham acesso a recursos suficientes, tanto materiais quanto humanos, para promover uma inclusão verdadeira.

A sociedade precisa entender que a inclusão escolar é um direito garantido pela Constituição e pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015). A responsabilidade de garantir esse direito é compartilhada entre as instituições de ensino, o poder público e a comunidade.

O despreparo docente e a falta de inclusão escolar para alunos neurodivergentes são questões urgentes que precisam ser abordadas de forma eficaz. A inclusão só será plena quando houver investimento em capacitação e recursos adequados. O Brasil precisa avançar em políticas que garantam um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo, permitindo que todos os alunos, independentemente de suas diferenças, tenham acesso a uma educação de qualidade e às mesmas oportunidades para o futuro.

 Raphael Gadelha é especialista em educação tecnológica e CEO da Dulino

 

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