OPINIÃO | Notícia

A geração Z e o Mito do Trabalho Perfeito

A transformação não virá apenas do mercado de trabalho ou das instituições educacionais. Ela começa dentro de cada jovem.. fazendo a diferença...

Por JÂNYO DINIZ Publicado em 16/10/2024 às 0:00 | Atualizado em 16/10/2024 às 6:20

A Geração Z, composta por jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010, ou seja, aquela que cresceu em meio a smartphones, redes sociais e um mundo sempre conectado, está chegando ao mercado de trabalho com uma mentalidade diferente. Há uma insistente busca pelo trabalho perfeito, pelo propósito absoluto, pela empresa que vai, simultaneamente, oferecer desafios interessantes e ainda garantir flexibilidade e qualidade de vida, sem stress. Por outro lado, os resultados entregues não vem na mesma proporção.

O mercado de trabalho já dá sinais de que não está satisfeito com essa postura. Uma pesquisa da Intelligent.com, plataforma focada em ajudar jovens profissionais a navegar no mundo corporativo, aponta que 6 em cada 10 companhias demitiram jovens recém-formados em questão de meses.

Segundo o levantamento, os jovens estreiam com uma boa reputação no mercado de trabalho, mas têm sido alvo de reclamações sobre etiqueta, maturidade e ética. É comum ouvir de recrutadores que jovens da Geração Z, ao serem desafiados, frequentemente perdem o interesse e migram para outra coisa.

Essa falta de resiliência em encarar dificuldades ou de persistir diante de obstáculos pequenos sugere uma visão do mercado de trabalho como algo que deve servir aos apenas a seus interesses imediatos, e não como um espaço de construção e de crescimento gradual que se consolida ao longo do tempo. Uma geração que se comporta como as redes sociais na qual tudo é imediato e deve ser escrito em 140 caracteres ou visto em 30 segundos.

Outro ponto crítico está na idealização do ambiente de trabalho. A Geração Z tende a rejeitar oportunidades que não se encaixem no molde do emprego dos sonhos — um local que seja flexível, ofereça bem-estar, desenvolvimento, propósito e um bom salário, tudo na mesma medida.

O resultado disso é que muitas vezes perdem chances de aprendizado e de consolidação de carreira. Deixam de adquirir habilidades que são construídas justamente nas primeiras oportunidades, no "fazer acontecer" do dia a dia corporativo, seja em uma pequena empresa local ou em um estágio que exige um certo nível de esforço repetitivo. É aí que se adquire experiência, que se desenvolve a tão exigida adaptabilidade e resiliência, bem como se aprende o valor da contribuição individual em um coletivo maior.

Para os que ofertam formações e cursos, o desafio de atrair a Geração Z é enorme. A geração quer flexibilidade, conexão direta entre o aprendizado e a aplicação prática, que aconteça em um curto espaço de tempo, muitas vezes, não percebe que aprender exige tempo, dedicação e paciência. Não há atalhos para construir um conhecimento sólido. Esperar que a formação seja tão dinâmica quanto um vídeo de um minuto no TikTok é ignorar a complexidade do aprendizado humano.

Nós, enquanto instituições, precisamos, sim, nos adaptar para trazer metodologias mais engajadoras e experiências práticas, mas isso não deve significar abdicar dos fundamentos. Afinal, o mercado não precisa apenas de jovens com ideias inovadoras; precisa também de pessoas capazes de se aprofundar nos temas, de se dedicarem ao aprendizado contínuo e de resolverem problemas complexos, características que só se desenvolvem com persistência e dedicação.

O mercado de trabalho não é fácil, nunca foi e dificilmente será. É um espaço competitivo, cheio de desafios e repleto de momentos em que precisamos fazer o que não gostamos, abdicar de lazer e convivência pessoal com amigos e família em prol de um objetivo maior. A Geração Z tem muito a contribuir, trazendo novas perspectivas, agilidade e uma preocupação mais humana ao ambiente de trabalho, mas precisa também reconhecer que oportunidades raramente vêm já prontas e perfeitas. Elas exigem esforço, sacrifício e, principalmente, vontade de crescer.

Por isso, é preciso que esses jovens despertem para o fato de que o trabalho ideal não é encontrado, é construído. Que, antes de exigir do mercado e das instituições de ensino a adaptação aos seus desejos, olhem também para as oportunidades disponíveis e se perguntem: como eu posso fazer a diferença neste espaço?

Oportunidades existem, mas é necessário reconhecer que nem todas vêm embrulhadas como presentes. Algumas exigem sacrifício, paciência e, sobretudo, a capacidade de enxergar o potencial oculto, transformando o ordinário em extraordinário.

O desafio, portanto, é um convite ao crescimento: parar de buscar apenas o que é perfeito e aproveitar o que está disponível. A transformação não virá apenas do mercado de trabalho ou das instituições educacionais. Ela começa dentro de cada jovem que, ao invés de esperar que o mundo se adapte às suas expectativas, decide transformar-se para fazer a diferença no mundo real.

Jânyo Diniz, CEO do Grupo Ser Educacional e presidente do Sindicato das Instituições de Ensino Superior de Pernambuco e Paraíba.

 

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