OPINIÃO | Notícia

A importância das emoções na aprendizagem escolar

Vamos , então, convidar os professores, gestores escolares, pais, psicólogos e educadores a prestar muita atenção nas emoções.....

Por MOZART NEVES RAMOS E LAIS GODOY Publicado em 07/10/2024 às 0:00 | Atualizado em 08/10/2024 às 9:09

Há menos de trinta dias, o Recife sediou a Jornada Bett Nordeste, congresso com foco em tecnologia e inovação voltado para a Educação, e um dos temas mais relevantes do evento foi a Inteligência Emocional (IE) e a importância que as emoções têm na fase escolar de crianças e adolescentes. Convidados pela organização da Bett Brasil para falar e debater sobre o poder das emoções no aprendizado, o professor e neurocientista Guilherme Brockington, a educadora pernambucana Paula Carneiro Leão e o especialista pedagógico Luiz Fernando Gonçalves fizeram, provavelmente, a palestra mais provocante e inquietante da jornada, chamando os professores presentes para enfrentar o desafio de quebrar paradigmas pedagógicos consolidados ao longo de décadas em nossas escolas, motivando-os a sair da zona de conforto para adotar um novo modelo de ensino que dá protagonismo às emoções e às particularidades de cada aluno, vendo-o como um indivíduo único.

Embora os neurocientistas venham tratando do assunto desde os anos de 1970, quando começaram a estudar sobre a capacidade do cérebro de criar novos neurônios, somente no fim do século XX as pesquisas vieram revelar, de forma mais específica e relevante, a relação da neurociência com os processos de aprendizagem, para, a partir daí traçar uma comunicação efetiva com as emoções e o desenvolvimento da capacidade cognitiva de crianças, adolescentes e jovens no ecossistema escolar, bem como no ambiente familiar e social. Com as descobertas provenientes desses estudos, sugiram a necessidade de se criar políticas públicas que possam viabilizar uma estrutura escolar profissionalizada para a implementação desse desafiador processo de correlação entre desenvolvimento cerebral, emoções e a capacidade cognitiva dos alunos.

O neurologista português António Damásio, professor de neurociências na Universidade do Sul, na Califórnia, trabalha - há décadas - no estudo do cérebro e das emoções. De acordo com ele, razão e emoção não se separam em nenhuma circunstância de nossas vidas. Ele explica que a área do cérebro que controla as emoções (sistema límbico) e a área que controla a razão (neocórtex) não atuam separadamente. É dele a clássica afirmação de que "toda e qualquer expressão racional está baseada nas emoções". De acordo com Damásio, a aprendizagem se dá na relação que o indivíduo estabelece entre o mundo interno e o externo, e quanto maior for o interesse de alguém por um determinado assunto, maior será a capacidade que essa pessoa terá de absorver conhecimento.

Está cada vez mais claro para os especialistas que a Inteligência Emocional influencia as relações entre gestores, professores e alunos, e que desenvolver as competências ligadas à gestão das emoções no ambiente escolar pode contribuir para uma cultura de paz e consequentemente, para a melhoria da aprendizagem. Saber identificar e lidar com as próprias emoções e de outros indivíduos são habilidades que desempenham um papel decisivo ao longo da vida dos estudantes, tanto no campo pessoal como no profissional. Na escola contemporânea, gestores e professores vivenciam situações desafiadoras, nas quais o enfrentamento exige mais do que competências técnicas.

O professor Guilherme Brockington, que há cerca de 30 anos se debruçou sobre as pesquisas envolvendo as emoções na educação, explica que toda a percepção do ser humano é influenciada pela emoção; a memória é influenciada pela emoção, o nível de atenção está ligado à emoção e tudo isso é determinante para a vida de um indivíduo. Segundo ele, uma das emoções mais primitivas é o medo e o cérebro processa o medo como se fosse uma agressão física; bem como a punição e o trauma, que fragmentam e inibem o desenvolvimento do estudante, evidenciando que tanto no ambiente escolar quanto no familiar, a saída para estimular a capacidade cognitiva e o desenvolvimento do aprendizado é o diálogo e o acolhimento, sobretudo na longa jornada da infância que é determinante para a inteligência.

Concluímos fazendo um convite a professores, gestores escolares, pais, psicólogos e educadores em geral a lançar o olhar e prestar muita atenção nas emoções de todos que compõem a comunidade escolar e o ambiente familiar.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE e Laís Godoy é jornalista

 

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