Um nu artístico sensacional
Nesta época de ventos fortes e poeira, fui fazer uma faxina na minha pequena estante, e encontrei três escritores que há muito não leio....

....Máximo Gorki, André Gide e Dreiser.
Na minha juventude, Gorki e Gide eram a coqueluche dos jovens brasileiros. Pra onde eu ia, levava o livro de um ou do outro. Mexendo mais na estante, encontrei obras do irlandês John Millington Synge, autor de A sobra da ravina, e Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, ambos presentes de Tomas Seixas. Já nas últimas prateleiras da estante, encontrei um que há muito não via, o romance Sister Carrier, de Theodore Herman Albert Dreiser, que jamais li, e resolvi ler.
De pai imigrante alemão de origem humilde, Dreiser ensinou a própria mãe a ler quando ainda tinha 12 anos. Se Henry James não estava escrevendo, podia bancar "o homem desocupado." Se Dreiser não estava escrevendo, estava simplesmente desempregado. Quando personagem do mundo literário, Dreiser não se confrontou apenas com o recato sexual vitoriano, mas também desafiou os pressupostos sobre quem poderia ou não ser um escritor.
Seu livro de que mais gostei, e que recomendo ao querido leitor, é Uma tragédia americana, de 1925, que começa seguindo uma trilha bem conhecida: um rapaz pobre se apaixona pela filha de um rico. Mas termina com uma execução, e não com casamento, abrindo caminho para a narração de crimes reais que conduziu até A sangue-frio, de Truman Capote, e A canção do carrasco, de Norman Muller, autor do excepcional A luta, que dei de presente a meu filho Carlos Koch de Carvalho, depois de o reler esta semana.
Aldo Paz Barreto, um dos maiores jornalistas pernambucanos, voltou a colaborar na imprensa com artigos semanais na folha Opinião do DP. Meu abraço, Aldinho. Saudade de nossas noitadas alegres "nos cabarés da cidade". Saudade do Chanteclair, Moulin Ruge e Flutuante, onde o grande boêmio Waldemar Machado sacudiu seu relógio Mido no Rio Capibaribe para provar que ele era a prova d'água. Saudade do Cassino Americano onde Isaurinha Garcia nos presentou com um sensacional nu artístico. Ao amanhecer, fomos lavar o peritônio com uma geladinha e sarapatel na feira de Boa Viagem. Depois, banho de mar na então paradisíaca Piedade. Nada de inteligência artificial e computador. Recife era feliz e não sabia.
Arthur Carvalho, da Academia de Artes e Letras de Pernambuco