Sobre a existência do Dr. Fritz e o Dr. Fritz pernambucano
Doutor Adolf Fritz é um suposto médico que teria nascido na Alemanha, mas logo cedo se mudou para a Polônia, onde se formou em medicina.

Em 1914 convocado como médico na Primeira Guerra Mundial teria desenvolvido formas de cura e práticas cirúrgicas espirituais usadas nos campos de batalhas. Teria falecido em 1918, durante um combate. Depois da morte, seu espírito teria sido convocado por seus superiores espirituais para que retornasse à terra, com um importante trabalho a fazer. Todas as informações acerca da vida do Dr. Fritz são de supostas comunicações mediúnicas, incluindo relatos contraditórios. Apesar de buscas exaustivas, nenhum pesquisador jamais encontrou registros de sua existência. Uma curiosidade: Friz é um nome muito comum na Alemanha, como João e José no Brasil.
No Brasil, nos anos 50, José Pedro de Freitas, da cidade mineira de Congonhas, conhecido como Zé Arigó, começou a incorporar o Dr. Fritz. Realizava atendimentos médicos e cirurgias espirituais enquanto falava imitando um sotaque alemão e tornou-se famoso no Brasil e no exterior. Ele escrevia receitas em uma letra incompreensível que somente seu irmão, um farmacêutico, supostamente era capaz de compreender. Arigó foi processado e preso duas vezes por exercício ilegal da medicina, e morreu no dia 11 janeiro de 1971, aos 49 anos, em um acidente de automóvel., quando seu carro, um Opala azul derrapou na BR-135, perto de Congonhas e foi partido ao meio por uma carro do DNER. Sua vida foi tema de vários livros e filmes. Lançado em 2022, "Predestinado: Arigó e o Espírito de Dr. Fritz" chegou à Netflix e entrou para o ranking de filmes em língua não inglesa mais vistos da plataforma.
Os instrumentos para a realização eram bastante rudimentares, como facas de serras, canivetes, bisturis e tesouras. Todos sem assepsia entravam em contato com o corpo dos pacientes. Por outro lado, não havia reclamação de dores entre os atendidos e não eram reportadas hemorragias ou infecções pós-operatórias. A fama de curandeiro começou a se espalhar mundialmente e o pesquisador americano Andrija Puharich veio ao Brasil para entender o fenômeno e chegou até mesmo a ter um lipoma no braço operado por José Arigó.
As cirurgias eram efetuadas com grande rapidez, caracterizadas por escasso sangramento, os cortes fechados sem suturas e as pessoas raramente sentiam dor. Por vezes eram utilizadas agulhas, através das quais era desmaterializada qualquer substância estranha no interior do local, muitas vezes materializava em seguida, do lado de fora do corpo do paciente. Em outras ocasiões, o material sólido liquefazia-se, escorrendo gota a gota pela agulha. Segundo informado pelo Dr. Fritz, o tratamento com agulhas era utilizado nos pacientes que apresentavam problemas espirituais, obsessivos ou de ordem moral.
José Arigó morreu no dia 11 janeiro de 1971, aos 49 anos, em um acidente de automóvel, quando seu carro, um Opala azul derrapou na BR-135, perto de Congonhas e foi partido ao meio por uma carro do DNER.
Depois da morte de José Arigó, diversos médiuns afirmaram simultaneamente canalizar o espírito do Dr. Fritz. Dois foram os mais famosos. O primeiro foi o engenheiro eletrônico paulista Rubens Farias Júnior, que teve uma existência complicada. foi acusado de enriquecimento ilícito, cobrando pelas suas consultas e cirurgias Teria comprado imóveis com o dinheiro das consultas até no exterior, uma separação com direito a histórias picantes nos jornais quando seu nome passou das páginas de celebridades para as policiais. Divulgou-se à época que teria tentado o suicídio, o que ele sempre negou. Rubens Farias Descreveu descreveu o Dr. Fritz como um homem forte, alto, de cabelos penteados, barba ruiva, que usava óculos. Nunca se conheceu uma foto dele.
O segundo médium a incorporar Dr Fritz mais famoso no Brasil era pernambucano. O médico Edson Cavalcante Queiroz, conhecido como Dr. Edson Queiroz (mesmo nome de um grande empresário cearense, que morreu na queda de um avião da Vasp). Nasceu no Recife em 23 de agosto de 1950. Formou-se pela Faculdade de Medicina de Pernambuco e especializou-se em ginecologia. Tinha uma carreira de sucesso, com o consultório sempre cheio de clientes, quando, em 1979 passou a afirmar estar incorporando o espírito do "Dr. Fritz", que, como a José Arigó, o que lhe trouxe reconhecimento e fama.
Fundou em Campo Grande a Fundação Espírita Dr. Adolph Fritz (sim com ph), onde passou a operar. Estive lá algumas vezes e me tornei amigo do Dr. Edson Queiroz, quando consegui por cinco vezes apadrinhar pessoas conhecidas (inclusive de outros estados) para ter prioridade na fila das cirurgias. Todas me garantiram que ficaram curadas, mas perdi o contato com elas há muito tempo. Dr. Edson nada cobrava pelas cirurgias, havia apenas uma história de que suas clientes no consultório tinham prioridade, que nunca foi confirmado. Ele recebia em torno de 200 pessoas por dia.
Cheguei a ver algumas das cirurgias do Dr Edson( Dr.Fritz), algo impressionante. Para começar, a simplicidade do local, uma aparece falta de assepsia durante o procedimento, também sem anestesia Ele dava uma explicação complicada para a prática: era um fenômeno de "fritzação", que seria a inativação da patogenicidade dos micróbios. A rapidez com que o processo de cicatrização ocorria comprovaria esse processo.
Ele usava apenas algodão, água, pinças, tesouras e agulhas. Retirava, por exemplo com a mão o olho doente, ou fazia incisões com bisturi nas cirurgias mais complicadas, quando sempre falava num alemãopouco compreensível. As cirurgias eram efetuadas com grande rapidez, caracterizadas por escasso sangramento, os cortes fechados sem suturas e as pessoas raramente sentiam dor
Começou a atrair um número crescente de pessoas em busca das suas cirurgias. Chegou a fazer operações mediúnicas nos Estados Unidos, em Salvador e em Fortaleza. Em 1983, o Conselho Regional de Medicina do Ceará o acusou de prática ilegal da Medicina o que resultou na cassação de seu registro profissional. Dois anos depois foi absolvido. E não parou de fazer suas cirurgias.
Dr. Edson Queiroz, incorporando o Dr. Fritz operou muitas pessoas conhecidas, a maioria mantendo sigilo. Dois entretanto tornaram públicas as cirurgias mediúnicas. O primeiro foi Chico Anysio, que ficou curado de problema nas cordas vocais, Operação foi feita no Teatro Vannuci, no Rio de Janeiro, diante de um grande plateia, com o famoso humorista em pé. A segunda foi no Recife, por Alcyone, que tinha um problema que poderia acabar com sua voz. A cantora fez um pronunciamento falando da cirurgia em evento na Assembleia Legislativa. Dr. Edson Queiros se tornou tão famoso que foi eleito deputado estadual em 1990.
No dia 3 de maio daquele ano foi entrevistado por Jô Soares, que na época tinha programa Programa "Jô Onze e Meia", no SBT. No decorrer da apresentação o médium incorporou o Dr. Fritz e realiza diante das câmeras uma operação espiritual. Ao final executa ao violão a canção "Segura na Mão de Deus". Ele fez muitas palestras no Brasil e exterior, quando também cantava, com um violão.
Ele morreu em 5 de outubro de 1991, quando tinha 41 anos, na sua casa de Piedade por José Ricardo da Silva, um antigo caseiro que teria ido cobrar uma dívida de pequeno valor que o médico se recusou a pagar, quando o demitiu. Deu várias facadas
Doze anos depois da sua morte, a Assembleia Legislativa fez uma exposição obra produzida pelo médium ex-deputado. Edson Queiroz, teve livros publicados em países da Europa, nos Estados Unidos e na Argentina. Sônia Queiroz, viúva do ex-deputado e diretora da Fundação Espírita Adolph Fritz, coordenou a mostra.
Outro médium que disse receber a manifestação de Doutor Fritz foi processado e condenado, mas não pelo uso questionável de práticas médicas. Responsável pela Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, João de Deus chegou a receber três mil pessoas por dia. Tudo ruiu quando foi acusado e condenado por estupro e outros crimes sexuais enquanto realizava cirurgias espirituais que, supostamente, seriam guiadas por diversos espíritos, como Doutor Fritz.
José Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1