Um restaurante flutuante no Capibaribe
Durante alguns anos o restaurante funcionou no rio Capibaribe

De vez em quando surge a notícia de que investidores planejam instalar um restaurante flutuante no rio Capibaribe, como acontece em várias cidades do mundo. Nunca a ideia é concretizada, mas não seria uma novidade na cidade. Lembrando uma balsa, sobre lastros de madeira e sustentado por tambores de 200 litros, o restaurante-bar "O Flutuante" funcionou durante 10 anos.
Pertencente ao empresário João de Morais Moreira ficava em frente à Avenida Martins de Barros, entre as pontes Maurício de Nassau e Buarque de Macedo, bem no centro da cidade, numa área que tinha na época muito movimento. O acesso era por uma passarela igualmente flutuante. Abriu no dia 31 de janeiro de 1953, com um coquetel para jornalistas.
Sua construção não contou com uma arquitetura bem definida, foi tudo muito improvisado, para economizar na construção, dificultando a conservação. Praticamente um "arranjo" de carpinteiro "meia boca". Tinha na cobertura um terraço com cadeiras para drinques, usado especialmente nos fins de tarde.
Possuía mastros com bandeiras. Tudo encantava as pessoas. Atraia pela singularidade, virou cartão postal. Mas para economizar o dono criou um estabelecimento comercial improvisado Praticamente um "arranjo" de carpinteiro "meia boca". Teve o propósito, subliminar de criar um ponto de atração turística da cidade.
O freguês podia almoçar ou jantar rodeado pelas águas do Capibaribe. Era uma emoção! Parecia um vapor atracado num porto do Capibaribe. Nos primeiros anos notava-se o esmero. Num pequeno palco, apresentava-se o pianista George Baltazar. Mesas alinhadas, com toalhas de linho, funcionários bem trajados, corteses e excelente cozinha, com pratos internacionais.
No almoço passou a reunir muitos políticos e empresários importantes. No jantar, especialmente nos fins de semana, casais iam curtir a casa e sua pista de dança. Tudo muito, digamos, charmoso. Foi lá, por exemplo, que o escritor Aurélio Buarque de Holanda, autor do famoso dicionário, almoçou com um grupo de intelectuais recifenses.
A partir de 1959, diante de críticas ferrenhas de historiadores e jornalistas, "O Flutuante" foi perdendo a classe e passou a enfrentar problemas. Transformara-se, de fato, num ponto de prostituição. O glamour inicial que a novidade despertava o proprietário não acompanhou o modelo dos primeiros anos. Os clientes foram se afastando, havia a presença de muitas prostitutas fazendo ponto pela redondeza..
Aconteceram prisões de meliantes e brigas, inclusive com uso de armas, que culminou com a cassação do alvará de funcionamento pelo então prefeito Pelópidas Silveira, depois de uma nota duríssima da Divisão de Planejamento Urbano. Em 1959 foi fechado. Digamos sem deixar saudades. Alguns meses depois, foi derrubado.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto