Viva Joris - Karl Huysmans
Acordei hoje com saudade de Joris - Karl Huysmans. Sabe esses escritores que você lê, gosta, porém não tira mais da estante para reler? Assim fiz eu com esse grande novelista, nascido e morto em Paris.

Quem o recomendou foi um dos maiores poetas, contistas, ensaístas e romancistas contemporâneos do Brasil, chamado Fernando Monteiro. Com essa pandemia da Covid19, fechei nosso escritório de advocacia, pretendendo reabri-lo quando puder. Houve tempo em que Fernando chegava no nosso escritório ao entardecer - e ficávamos jogando conversa fora até a noite. Ele levava sempre umas deliciosas empadas de camarão da Padaria Santa Cruz, eu pedia a nossa secretária Natália, a melhor que tivemos até hoje, para preparar um chá inglês que Roberto Motta me presenteava quando voltava de suas viagens à França, Inglaterra, Índia e alhures, e falávamos de Noel Rosa a Knut Hamsun, passando por Madame Satã, Lolita, Bergman, Zizinho, Heleno de Freitas, Guabeirinha, "o terror dos gramados", Canhoteiro, a lendária e poderosa cafetina Maria Boa, de Natal (cuja casa frequentei a partir dos 13 anos de idade), Orlando Silva e Sílvio Caldas. Não esqueço seus comentários técnicos sobre o filme Limite, de Mário Peixoto, que, achando pouco, compôs Linda Flor Yayá (Ai, yoyô), gravado por Aracy Cortes, e depois, por vários cantores. É um samba-canção da década de 30, precursor da bossa-nova e minha música preferida. Fernando Monteiro é PHD em cinema pela Universidade de Roma, anticlerical e antiacadêmico.
Um dia, Fernando me emprestou um romance intrigante de Huysmans, no qual o autor consagra o símbolo do esteta decadente, um sensualista egocêntrico, inclinado a buscar sensações refinadas e se permitir prazeres perversos, sem considerações sociais - uma coisa meio dostoievskiana. E logo gostei do nosso Joris, aí comprei outras obras suas, Marthe e A Catedral. Comprei mas ficaram mofando na estante. No momento, estou curtindo O Quarto Vermelho, de August Strindberg, escritor, pintor, fotógrafo experimental e alquimista sueco, nascido e morto em Estocolmo. Strindberg descreve uma sociedade na qual a velha ordem está corroída, onde tudo se encontra no limbo de um mundo pós- Nietzsche em que Deus está morto. Meus autores de cabeceira são O Velho da Montanha, Joseph Conrad, Dostoiévski, Castro Alves e Raimundo Carrero.
Arthur Carvalho , da Federação Internacional dos Jornalistas - FIJ