O furor das águas de maio
Estarreceram, aos olhos do Brasil e do mundo, a tragédia que assolou o valoroso Estado do Rio Grande do Sul, a começar por sua bela capital, Porto Alegre.

O furor das águas de maio foi impiedoso nas mazelas causadas nos seus prédios e nas suas edificações, expurgando as pessoas de suas moradas, enchendo de água as ruas, molestando os veículos, causando mortes e ferimentos, gerando pânico em toda gente, deixando o seu povo em polvorosa.
Quem, entre as pessoas de outros cantos e recantos, não chorou a sua dor diante da tragédia anunciada? As imagens, muitas em tempo real, mexeram com o emocional dos brasileiros, todos afeitos.
Não precisa ser especialista para entender que faltou, no âmbito do Estado, cuidados de manutenção aos sistemas de escoamento das águas e de saneamento, de limpeza pública, medidas preventivas que se antecipem às causas maiores e piores.
Eça de Queiroz, no seu livro O Primo Basílio, através do conselheiro Acácio, nos ensina que "as consequências vêm sempre depois." O alerta desse personagem é um aviso à vida de todas as pessoas prevenidas e cuidadosas, notadamente quando se trata de administração pública quando as medidas precisam ser redobradas porque está em jogo o coletivo, o bem-estar das comunidades, do povo, que deverá ser sempre a razão maior do gestor público.
No dia 15/05, assistindo a um boletim de uma das emissoras de televisão, pude ver números tenebrosos à humana gente, 157 pessoas no rol das mortes, 88 desaparecidas e 806 feridas em toda a extensão do Estado do Rio Grande do Sul. E ainda: dos 497 municípios, 463 cidades foram atingidas, deixando fora de casa um total de 615 mil, diante de um temporal que já contabilizava 10 dias ininterruptos.
Também de muita gravidade o fato de as escolas, cidade por cidade, em estado calamitoso, não permitirem a ministração das aulas, que, a esta altura, começa a haver retorno paulatino. Este período se soma aos meses sem aula, quando da pandemia da Covid-19, causando um prejuízo grande ao ensino-aprendizagem, um imperativo à formação das crianças e jovens na idade escolar. Lamentável este cenário
O Estado, atropelado pela tragédia, está também com a sua economia ferida e momentaneamente dizimada, haja vista os prejuízos à mostra de todos nós.
Perdas de patrimônio e infraestrutura de empresas gaúchas com a enchente ficarão entre R$ 19 bilhões e R$ 25 bilhões. Para reestruturar o Estado, o Governo federal está preparando um plano de mais de R$ 50 bilhões. Parte desse montante inclui a antecipação de verbas já destinadas às famílias afetadas, como FGTS e Bolsa Família.
O que salta aos olhos e toca os corações está sendo a solidariedade que vem motivada pelo amor ao próximo, pelo sentimento de bem servir a um Estado que emoldura o belo cenário brasileiro.
Rezo, aqui, a minha oração de crença e de esperança, rogando a Deus clemência aos gaúchos tão brasileiramente nossos:
Genuflexo, segue:
Externo, com o coração partido, a dor que me toca, e toca todos os brasileiros, diante dos assombros que a água vem causando à boa gente gaúcha.
Solidariedade tem sido a palavra mágica, brotante no âmago dos que sofrem, por extensão, as agruras do momento.
Rio Grande do Sul é um pedaço de todos os filhos desta Pátria. O povo gaúcho faz parte da alma brasileira. Povo de gente bonita e afável, de bravuras que emolduram a História de nossa Nação.
Que Deus, com sua misericórdia, faça deitar seu manto sagrado sobre o chão pátrio do Rio Grande do Sul, Estado varonil, salvando e abençoando o solo e o seu patrimônio físico, sua economia e cultura, a sua gente amada no Brasil e no mundo. É de amor e gratidão, senhor meu Deus, a nossa oração. É de Fé, nossa Mãe Santíssima, neste mês de maio, que rogamos por vossa interseção, junto ao seu Filho, Jesus, pedindo por este pedaço de Brasil, por este tanto de brasileiros, para que a recuperação se faça vida e luz. Assim seja!
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.