OPINIÃO | Notícia

Gualicho, Platina, Cobiçado e Arandu

Saudade do Prado da Madalena. De vez em quando, sonho com tudo isso. Devemos evitar palavras e termos de mau gosto como preclaro, irrefutável, carência de relevo, degustar caldo cultural, jogo de polias e inexcedíveis ensaios.

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 08/05/2024 às 0:00 | Atualizado em 08/05/2024 às 11:24

Quando desembarquei no Cais do Marco Zero, em 1948, vindo de Salvador, a bordo do Paquete D. Pedro II, do Lloyd Brasileiro, de passagem para Natal-RN, a primeira pergunta que fiz a José de Barros Cavalcanti, meu querido "Tio Bá", lendário remador, campeão invicto pernambucano de remo pelo Sport Club do Recife dos anos 30-40, então residente na Rua Amélia, nº49 - uma das últimas casas sobreviventes da tradicional rua, nas Graças - foi onde ficava o Jóquei Clube de Pernambuco. Por coincidência, ele era "turfman", e respondeu: "No bairro do Prado. Domingo tem programa, eu lhe levo lá." E cumpriu a palavra.

Em 1952, vim do Rio de Janeiro, onde morei até 1951, com meus tios Péricles Madureira de Pinho e Iracy, na Viúva Lacerda, Humaitá. A Viúva Lacerda ficava perto do Jockey Club Brasileiro, na Gávea, e eu ia com meu saudoso primo Madu, aos sábados e domingos, assistir às corridas no belo jóquei. E nele torcia por Gualicho, um alazão de 500 quilos, com ponto de interrogação branco, ao contrário, na testa. Foi o animal mais bonito que eu vi na minha vida. O único bi-campeão dos GPs, Brasil e São Paulo, e parecia voar - e não correr - porque suas patas mal tocavam a pista de grama. E Platina era minha égua preferida, um prodígio da natureza.

Em 1953, os puros-sangues em evidência na Madalena, eram Cobiçado, Arandu e a potranca tordilha Mangerona, se não me falha a memória. Reinaldo Oliveira, filho de Waldemar, um dos maiores amigos de meu pai Carlos Koch de Carvalho, desde o tempo de estudante de medicina na Bahia, não perdia uma domingueira. Outro "viciado" era o turfista Bento Magalhães. Quando ele se contrariava com a perda do páreo de um cavalo em que havia apostado, saía sacodindo o inseparável guarda-chuva, gritando "Foi roubo! Foi roubo! Nunca mais eu piso aqui!" No outro domingo, era o primeiro a chegar no prado. E hoje, o principal grande prêmio do Jóquei leva seu nome - "Bento Magalhães". Saudade de Gualicho e Platina, do extraordinário Ginete Luiz Rigoni, dos chilenos Marchant, Ulhôa e Emidgio Castillo. De Cobiçado, Arandu e Mangerona. Saudade do Prado da Madalena. De vez em quando, sonho com tudo isso. Devemos evitar palavras e termos de mau gosto como preclaro, irrefutável, carência de relevo, degustar caldo cultural, jogo de polias e inexcedíveis ensaios.

Arthur Carvalho - Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ

 

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