OPINIÃO | Notícia

Por que políticos apoiam Jair Bolsonaro?

O bolsonarismo enfraquece a sabedoria de muitos.

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 18/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 18/02/2024 às 6:35

Jair Bolsonaro convocou manifestação para o dia 25 de fevereiro. Diversos políticos já confirmaram presença. Outros não. E alguns estão em dúvida. Segundo a imprensa, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes; confirmaram presença. O senador Ciro Nogueira, política experiente, disse que estará presente com toda a família. O que motiva políticos a estarem ao lado de Bolsonaro no dia 25/02?

Pratico intensamente a construção de cenários. Com eles, interpreto e vislumbro as decisões dos atores políticos e antecipo resultados eleitorais. Esclareço que cenários são possibilidades, requerem coerência e evidências para ser construídos. Não existe um único cenário. No mínimo, dois. Também não recomendo o excesso de cenários, pois as previsões são prejudicadas.

Quais os cenários para Jair Bolsonaro? Esta é a pergunta que Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e Ciro Nogueira deveriam fazer antes do dia 25/02. Existem três cenários para Bolsonaro e o bolsonarismo. No primeiro cenário, Jair Bolsonaro é preso e condenado. Perde os direitos políticos e ficará por muito tempo impossibilitado de disputar eleições. Em razão do avanço da idade, é possível que o ex-presidente da República não mais concorra em pleitos eleitorais.

No segundo cenário, Jair Bolsonaro não é preso e nem condenado. Ficará até 2030 impossibilitado de disputar eleições. O lulismo precisará estar enfraquecido para que Jair Bolsonaro venha novamente a ter chances de vencer a eleição presidencial. Tenho para o governo Lula o seguinte cenário: em 2026, a avaliação do presidente Lula estará de regular para bom. Portanto, Lula estará em condições de ser reeleito. Deste modo, uma nova reeleição do Lula pode comprometer o retorno do bolsonarismo em 2030, pois ele poderá ser enfraquecido ou substituído por outro ator político.

O terceiro cenário para Bolsonaro é a explosão de um grande escândalo de corrupção no governo Lula ou insucesso da política econômica de Fernando Haddad. Em razão destes dois eventos, uma crise política surge e o STF restabelece os direitos políticos de Jair Bolsonaro. Com o lulismo fraco, Jair Bolsonaro é candidato a presidente da República em 2026 e retorna à presidência da República.

Diante das evidências do cotidiano, o cenário três é fortemente remoto. Mas é o ideal para incentivar e justificar a ida de Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e Ciro Nogueira a manifestação bolsonarista do dia 25 de fevereiro. Os cenários um e dois são plausíveis e se considerados desincentivam a presença de diversos políticos no ato convocado. Considerando que políticos sábios vislumbram ganhos e oportunidades no futuro, não existe justificativa plausível para que parlamentares e chefes do Executivo estejam ao lado de Bolsonaro numa manifestação convocada por ele. A não ser que o suicídio político seja para os adeptos do bolsonarismo uma opção.

Um outro argumento está presente: os políticos participantes do ato querem garantir o apoio do bolsonarismo em vindouras eleições. Mais uma vez recorro a construção de cenários. Se o cenário 1 ou 2 vier a ser realidade, o bolsonarismo será enfraquecido eleitoralmente ou capturado por outro ator político, o qual tende a substituir Bolsonaro. Ressalto que este surgirá naturalmente como representante de pautas morais, as quais foram capturadas sabiamente por Jair Bolsonaro.

Portanto, vejo a presença da miopia no comportamento de variados atores políticos, em particular, Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes. Lembro que a aproximação com o governo Lula pode garantir ao governador de São Paulo, recursos, obras e popularidade. Por consequência, ele poderá adquirir condições de ser candidato à presidente da República em 2030. Ao não ir à manifestação, o prefeito de São Paulo adquire discurso para se afastar do bolsonarismo radical e terá a oportunidade de municipalizar a disputa contra Guilherme Boulos. Lembrando que a estratégia ótima para o candidato do PSOL é a nacionalização. E a de Nunes, a municipalização. Conclusão: o bolsonarismo enfraquece a sabedoria de muitos.

Adriano Oliveira, doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.

 

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