
A temperatura média global da Terra subiu cerca de 1°C desde nos últimos 100 anos, com dois terços do aquecimento ocorridos a partir de 1975, enquanto a quantidade de recursos renováveis e não renováveis, extraídos anualmente, duplicou desde 1980 a nível global. Florestas são destruídas, fragilizando ecossistemas e expondo os seres humanos a agentes infecciosos. Um milhão de espécies está em riscos de extinção, segundo relatório da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Com a população mundial prevista a aumentar de 8,0 bilhões para 9.7 bilhões até 2050 e os recursos naturais ameaçados pelas atividades humanas, o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres, alerta que estamos a travar uma batalha pelas nossas vidas.
A forma como os seres humanos têm explorado o ecossistema precisa ser urgentemente revista. O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) adverte que, para conter o efeito do aquecimento global a 1.5°C até ao final deste século, em comparação com o cenário previsto de 2°C, que é considerado catastrófico, mudanças rápidas e abrangentes precisam acontecer. Isto significa não só enfrentar desafios ambientais, mas também rever a complexa mistura de questões sociais e econômicas, tais como a desigualdade, que está interligada com a causa e o impacto destes problemas.
Diante das tragédias que se agravam, urge uma abordagem sustentável. A educação desempenha um papel crucial ao capacitar os indivíduos a compreenderem esses desafios e a agirem responsavelmente para a construção de um mundo sustentável e pacífico para a sobrevivência e prosperidade das gerações atuais e futuras. Os problemas são de natureza complexa e envolvem variáveis multidimensionais, muitas de contexto global.
Sustentabilidade é o paradigma atual da Organização das Nações Unidas (ONU) para pensar um futuro, em que as considerações ambientais, sociais e econômicas são equilibradas na busca do desenvolvimento e de boa qualidade de vida. Esses três conjuntos - sociedade, meio ambiente e economia - estão interligados, bem como uma dimensão subjacente da cultura. Uma vez que o desenvolvimento sustentável aborda contextos locais. Por exemplo, uma sociedade próspera depende de um ambiente saudável para fornecer alimentos e recursos, água potável e ar puro para seus cidadãos.
O desenvolvimento sustentável deve satisfazer às necessidades humanas, usar os recursos naturais dentro das limitações do planeta e tomar as decisões baseadas em valores e ética. Não pode ser alcançado apenas por soluções tecnológicas, regulamentação política ou instrumentos financeiros. Precisamos mudar a maneira como pensamos e agimos. Isso requer educação para o desenvolvimento sustentável em todos os níveis e em todos os contextos sociais.
Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) emprega uma pedagogia inovadora e orientada para ação, visando permitir que os estudantes desenvolvam o conhecimento e a consciência para tomar medidas que transformem a sociedade, tornando-a mais sustentável. Também capacita os estudantes com conhecimentos, competências, valores e atitudes para decisões e ações responsáveis em prol da integridade ambiental, viabilidade econômica e uma sociedade mais justa. É um processo de aprendizagem contínuo que reforça as dimensões cognitivas, sociais, emocionais e comportamentais da aprendizagem. Incentiva os estudantes a questionar, pensar criticamente, analisar cenários locais, com visão global. É holística e transformadora. A instituição educacional precisa ter o ethos de sustentabilidade que possa ser visto no ambiente e nas práticas de gestão. Se assim não for, no processo, os estudantes vão notar discrepâncias entre o que é ensinado e o que ocorre. Por exemplo, se estudam conservação de energia, mas a escola não implementa tais medidas, vão perceber.
Educar para o mundo sustentável compreende uma abordagem com inúmeros temas, como corrupção, pobreza, desigualdades, fome, mudança climática, biodiversidade, justiça social, paz, segurança, direitos humanos, urbanização, saúde. Enfim, são problemas complexos que considerem todas as dimensões da sustentabilidade. É preciso ter metodologia de ensino e aprendizagem participativa que motive e empodere as pessoas, incentivando-as a mudar os próprios comportamentos, com ações para o desenvolvimento sustentável.
EDS é reconhecida como facilitadora fundamental dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Contribui diretamente para o ODS 4 sobre educação de qualidade e inclusiva, em particular a meta 4.7 do Objetivo 4, bem como todos os outros ODS, para proporcionar uma educação relevante que coloque a responsabilidade pelo futuro no seu centro.
Ministros, secretários de educação, diretores, professores e outros atores envolvidos no sistema educacional são chamados a assumirem compromisso para a consecução dos ODS dentro do prazo previsto, ou seja, até 2030. Jeffrey Sachs, Presidente do Sustainable Development Solutions Network, conclui que todos os países têm um grande trabalho pela frente para criar estratégias e plano para o sucesso dos ODS. Educação para o Desenvolvimento Sustentável precisa ser prioridade.
Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker