OPINIÃO

São João nosso de cada ano

Aproveita gente que o pagode é quente - Viva Gonzaga vivo!

ROBERTO PEREIRA
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ROBERTO PEREIRA
Publicado em 20/06/2023 às 0:00 | Atualizado em 20/06/2023 às 18:52
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Pré São João - Festa de São João na Avenida Rio Branco no Recife Antigo - Forró - Recife Antigo - Festa - São João - Bandeirinhas - Balão - Festa - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

Devemos a Luiz Gonzaga a inclusão do Nordeste no mapa do Brasil. Até, então, éramos os do Norte que chegavam. Graças à sua música, começamos a existir na geografia deste imenso país. O Rei do Baião foi intérprete da nossa saga, cantando os nossos percalços e as nossas belezas. Entoando lembranças deixadas ao longo do tempo para revivê-las com a sua poesia. Numa delas, exclamou: "Saudade, o meu remédio é cantar."

Hoje, encarnamos nele o humano sentimento da saudade. Saudade dele e de tudo quanto sintetizou nas suas melodias. Ele e parceiros da estirpe de Zé Dantas, Humberto Teixeira e outros, todos identificados com as alegrias e as agruras da gente nordestina. Se o Brasil chorou a sua morte, soube exaltar as suas glórias, mantendo viva a sua chama de nordestinidade.

Gonzaga era um telúrico sem ser provinciano. A sua música, prenhe de inconformismo, não chegou a ser de protesto. Eternizado, o Brasil festeja o seu filho ilustre a cada ciclo junino. Atualmente, as suas 110 luas continuam luzindo a sua arte e a sua inteligência. Todo tempo quanto houver pra mim é pouco, cantou Gonzaga, cantamos todos nós!

Gonzaga - o bom Gonzagão - deixou um mundo todo redescoberto, mágico e descortinado por sua sanfona, que foi o seu piano alado.

Lembro a importância do evento no rebatimento da economia. Mexe, positivamente, com toda a cadeia produtiva, sendo também geratriz do turismo. As festividades juninas, onde acontecem, fazem girar a catraca da economia.

A sanfona do Rei do Baião e sua voz boiadeira, suave e saudosa, contagiaram o País. Uma nova técnica, um novo ritmo e uma nova expressão musical foram introduzidos no cancioneiro nacional, nos programas de auditórios, nos discos, nas vitrolas, no coração do povo.

E foi também uma arma contra alguns ritmos estrangeiros que estavam penetrando fortemente no Brasil. Foi uma disputa árdua e brilhante. Nós ganhamos. E venceu a nossa cultura, sem dúvida alguma. O baião, o xaxado, o forró, essa tríade musical nordestina, em verso e melodia, atinge o firmamento do lirismo.

Atualmente, a tradição junina vai, lentamente, perdendo as suas características. Uma nova invasão de músicas e ritmos estranhos à nossa tradição. O forró gonzagueano duelando com os piseiros, sertanejos, etc. Prefeituras, no afã de preferências junto à população, sobretudo diante da juventude, cedem à tradição, ameaçando-a, para dar vez aos cantores de repertórios alheios à cultura saojoanesca, potencializando votos, desprezando os valores inerentes à preservação dos bens imateriais.

Saudade do meu São João da infância, passando pela adolescência. Os palhoções cobertos pelas palhas de bananeiras. Em poesia, o coração em festa: "bandeirinhas coloridas de papel amarradas num cordão. Embaixo, o arrasta-pé tá pra de bão."

As rifas, feitas de caixões, com o designer de casinhas, onde eram vendidos os fogos, desde os inocentes aos bombásticos. Os trajes, de camisas quadriculadas, lembravam os "matutos ou caipiras." As meninas se vestindo de chita, penteando os seus cabelos com rabos de cavalo, mantendo, nos rostos, ruge e batom.

As quadrilhas, hoje, na sua maioria, são estilizadas e se apresentam cenicamente como se representassem um teatro à semelhança das escolas do Rio de Janeiro e São Paulo.

A quadrilha junina, gritada nos longes da minha meninice:

Seus lugares / balancê / anavantu / Anarriê / balancê / olha a foto / olha o pai da noiva / preparar para o túnel / olha o túnel / seus lugares / olha a grande roda...pra esquerda, pra direita / segue o passeio à esquerda, / olha a foto,.../ tirou... / segue o passeio à direita, à esquerda, olha a foto. / Balancê... seus lugares, / olha o passeio na roça, à esquerda, segue o passeio. / olha a grande roda pra direita. / seus lugares / cavalheiros cumprimentam as damas / balancê / seus lugares.

Aproveita gente que o pagode é quente - Viva Gonzaga vivo!

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

robertop@elogica.com.br

 


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