OPINIÃO

Segurança em Olinda: A polícia deve ser o último recurso

É dever da prefeitura garantir atendimento de saúde e , também, realizar a redução de danos para os usuários de drogas. Organizar e executar projetos que apresentem alternativas sociais e econômicas para que essas pessoas tenham esperança e resgatem sua dignidade.

EUGÊNIA LIMA
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EUGÊNIA LIMA
Publicado em 01/06/2023 às 0:00 | Atualizado em 01/06/2023 às 10:09
Thiago Lucas
Insegurança em Olinda - FOTO: Thiago Lucas

Para que a vida em comunidade seja harmônica é imprescindível que as pessoas se sintam seguras. Contudo, nossa sociedade contemporânea é construída a partir da ótica do medo. E os paliativos que encontramos não resolvem o problema fundamental, apenas contribuem para nos levar à solidão, à indiferença e à barbárie. O sentimento de insegurança e o medo podem desencadear problemas sociais e políticos sérios, pois fortalecem e "justificam" os dogmas e mitos religiosos, o consumo inconsciente, o preconceito e aplicação de métodos autoritários e violentos.

Em nossa constituição a Segurança como serviço público visa garantir a prevenção e repressão qualificada, com respeito a equidade e dignidade humana. Mas se acompanharmos os noticiários podemos constatar que estamos longe disso. Nossos agentes públicos parecem acreditar que a função do estado se resume a estabelecer metas, policiamento ostensivo e repressão. Expondo as polícias para resolverem problemas que fogem de sua esfera de atuação. Não há como combater a violência e a insegurança, sem pensarmos em uma política de assistência social e de saúde pública.

Os últimos anos foram bastante severos para o povo brasileiro e a pandemia da Covid-19 agravou nosso problema social e econômico já existente. A correlação dos dados sociais com os indicadores de segurança pública apontam para uma relação proporcional. Quanto maior a desigualdade, maior o índice de criminalidade. Enquanto não há iniciativas efetivas de políticas de assistência social e moradia, teremos milhares de pessoas em situação de rua. Pessoas que estão sujeitas a todo tipo de violência e que se tornam vulneráveis ao uso abusivo de drogas, agravando a situação e se tornando também um problema para o Estado. Um círculo vicioso, que se repete em muitos centros urbanos no Brasil.

Como moradora de Olinda eu sei bem como é viver com esse sentimento de insegurança. A entrada da cidade está se transformando numa cracolândia. São centenas de pessoas em diversos pontos da cidade, consumindo drogas, com fome e sem perspectivas de vida. Que vão na madrugada invadir casas e realizar pequenos furtos para garantir o consumo do dia seguinte. Tenho o privilégio de morar no sítio histórico de Olinda, um dos lugares mais lindos do país, e nos últimos quatro anos já tive minha casa invadida e furtada oito vezes. A polícia até tenta fazer o trabalho de prevenção e repressão, mas é inútil quando consideramos a dimensão deste problema no município. Como diz o ditado popular; estão enxugando gelo.

Não vemos da Prefeitura de Olinda nenhuma iniciativa ou ação coordenada de política pública para mitigar a atual sensação de insegurança dos moradores. É urgente que a política de assistência social no município seja efetiva. Não basta doar cestas básicas entregues por alguma candidata do prefeito. Até como efeito eleitoral isso não é mais efetivo.

As pessoas em situação de rua precisam de refeições prontas, gratuitas e de qualidade. É necessário construir mais restaurantes populares, casas de acolhimento e começar a apoiar as iniciativas de cozinhas solidárias independentes no município. É dever da prefeitura garantir atendimento de saúde e , também, realizar a redução de danos para os usuários de drogas. Organizar e executar projetos que apresentem alternativas sociais e econômicas para que essas pessoas tenham esperança e resgatem sua dignidade. O prefeito deve liderar sua gestão e pedir das suas secretarias ações conjuntas que tratem deste problema. É seu papel articular com o Governo do Estado uma atuação coordenada das Polícias Civil e Militar, em conjunto com a Guarda Municipal. Entendendo que não é somente a polícia que resolve o problema da Segurança. Mas sim, ações integradas de assistência social e saúde, amplamente debatidas com a sociedade civil organizada e especialistas, executadas por pessoas qualificadas e comprometidas com a gestão pública e com a cidade de Olinda. Olinda tem pressa!

Eugênia Lima , moradora do Sítio Histórico de Olinda, Bacharela em Direito, pós-graduada em Gestão Pública e mestra em Desenvolvimento Urbano

 

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