
O dia 8 de março é o Dia Internacional das Mulheres e muitas organizações costumam se movimentar para pensar em como tratar esta temática em suas equipes.
É importante entender que a data mencionada não pede comemoração. Em verdade, a data marca a resistência de uma coletividade que busca igualdade de direitos e de oportunidades em comparação ao gênero masculino e mais respeito no mercado de trabalho.
A data como Dia Internacional pelos Direitos da Mulher foi instituída pela ONU na década de 70 conectada a uma sequência de eventos históricos relacionados à luta de mulheres da classe trabalhadora nos Estados Unidos (incêndio em Nova York), Rússia (Marcha das Mulheres Russas) e em países europeus no início do século 20.
Obviamente, a entrega de chocolates e flores, produção de cartazes e realização de dia da beleza, posts em redes sociais que romantizam a sobrecarga de trabalho com mulheres usando saltos altos sem perder a doçura não atendem aos anseios da mulherada que compõe esta luta, ao contrário, apenas reforçam estereótipos que precisam ser combatidos em todos os espaços, especialmente àqueles ligados aos ambientes organizacionais.
Ao analisar ações para o Dia da Mulher, é imprescindível que as organizações reflitam e desenvolvam iniciativas que demonstrem a importância do reconhecimento e da valorização real do trabalho das mulheres em toda sua diversidade. Para auxiliar as organizações nessa jornada, apontamos três propostas para inspirar um dia das mulheres que impactará positivamente e valorizará a diversidade das organizações, independentemente de seu porte ou finalidade econômica.
Primeiramente: qualquer iniciativa precisa ser pensada para reconhecer o trabalho das mulheres por suas habilidades e competências profissionais, jamais reforçar estereótipos de gênero. Então, que tal substituir o chocolate e a rosa vermelha pelo acesso a um curso on-line ou mesmo presencial nas organizações ou um livro, apenas para citar alguns exemplos, que favoreçam o incremento do rol de habilidades e competências das trabalhadoras e/ou colaboradoras.
Em segundo lugar, as organizações devem assumir o compromisso de desenvolvimento profissional e de carreira para as mulheres. A diversidade nos ambientes corporativos, especialmente em funções de liderança infelizmente ainda é uma exceção. Às mulheres muitas vezes é negado o direito de contratação em virtude da possibilidade de gravidez, por exemplo, ou mesmo por suposta eventual menor dedicação que os trabalhadores homem por se dedicarem de forma maior à família, como se as responsabilidades em relação aos familiares fossem um papel única ou predominantemente feminino, novamente vieses ligados aos estereótipos de gênero.
Portanto, é essencial para a consolidação de uma cultura organizacional respeitosa que fomenta práticas criativas e inovadoras o aumento da participação feminina.
A terceira proposição envolve um tema sério: combate ao assédio. Em pesquisa intitulada "A Mulher na Comunicação - sua força, seus desafios", realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), 72% das participantes, ou três em cada quatro, já enfrentaram assédio no local de trabalho, da mesma forma que 77% já presenciaram atos de assédio contra outras mulheres no local de trabalho, seja ele moral ou sexual. Além do assédio em decorrência unicamente do gênero, também há assédios relacionados a outras dimensões para mulheres como raça/etnia, orientação sexual, pessoa com deficiência, origem, idade etc.
São muitas as variáveis das práticas assediadoras contra mulheres e todas elas precisam ser detectadas, erradicadas e, sobretudo, evitadas nos ambientes organizacionais. As organizações podem e devem propor e implementar iniciativas antiassédio, algumas das quais ferramentas de compliance, tais como campanhas internas de combate, movimentos de sensibilização, ferramentas eficientes de denúncias e compromisso público de responsabilização rígida em todos os níveis hierárquicos dos casos de assédio, que tornam o ambiente mais seguro e estimulante para as mulheres.
Todas as pessoas têm direito a um ambiente de trabalho saudável. A promoção da inserção e a manutenção de mulheres no trabalho (Lei nº 14.457, de 21 de setembro de 2022) são de responsabilidade de todos os agentes, seja iniciativa privada ou Poder Público.
O 8M é sempre um convite para refletir como as organizações têm tratado as mulheres e o que pode ser feito para melhorar essa relação.
No entanto, o respeito e a valorização das mulheres nos ambientes organizacionais precisam ser agenda permanente de toda e qualquer instituição.
Façamos a diferença!
Manoela Alves e Ana Paula Azevêdo, diretoras do Instituto Enegrecer
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