OPINIÃO

Democracias com e sem atropelos

As viúvas da ditadura, as vivandeiras dos quartéis generais, que não aceitam o resultado democrático das urnas na última eleição, insistem em querer tomar o poder à força, a força das armas, mostrando que não têm nenhum apreço pela democracia...

MURILO CAVALCANTI
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MURILO CAVALCANTI
Publicado em 10/02/2023 às 0:00 | Atualizado em 10/02/2023 às 12:52
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Bolsonaristas doentes, radicais, extremistas, golpistas pedem a volta dos militares ao poder. Insistem em não aceitar o resultado das urnas - FOTO: Divulgação

Em plena ditadura militar do Brasil, aprendo com meu mestre e professor de História, José Nivaldo Júnior, em 1978, que a liberdade é como o ar que respiramos: só damos a devida importância a ela, quando nos falta. Ela nos faltou durante 20 anos. Anos duros. Anos de chumbo. Hoje, achei até que era uma página virada na triste e recente história brasileira. Eu estava redondamente enganado. As viúvas da ditadura, as vivandeiras dos quartéis generais, que não aceitam o resultado democrático das urnas na última eleição, insistem em querer tomar o poder à força, a força das armas, mostrando que não têm nenhum apreço pela democracia, pela liberdade e pela rotatividade no poder, tão essenciais à vida e à democracia, como o ar que respiramos.

Recorro a um exemplo de país que respeita a democracia, o resultado das urnas, a rotatividade do poder. Um país pertinho da gente, nossa vizinha Colômbia. Um exemplo clássico desta liberdade e do respeito à democracia tão ausentes hoje em uma parcela significante da população brasileira, que insiste em não respeitar o resultado das urnas. Nos últimos 80 anos, a Colômbia foi governada por presidentes conservadores. Alguns até de extrema direita, a exemplo de Álvaro Uribe (2002- 2010). No mesmo ano em que o Brasil escolhia entre a reeleição de Bolsonaro ou a alternância de poder, a Colômbia também vivia esse mesmo processo eleitoral. Elegeu Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro e ex-integrante do M-19, grupo armado que queria chegar ao poder através das forças das armas.

Petro renunciou as armas e buscou o caminho legítimo e democrático para chegar ao poder através das urnas. Ganhou a eleição presidencial em 2022, disputando com um candidato de ultradireita, Rodolfo Hernandéz, que na mesma noite, logo ao sair o resultado da eleição, numa atitude civilizada, ligou para Petro reconhecendo a derrota e se colocando à disposição para ajudar na governança da Colômbia.

Petro ganhou a eleição e levou. Tomou posse sem questionamento da direita colombiana, sem ocupação de quartéis, sem sobressaltos, sem mi-mi-mi, sem delírios, sem quebra-quebra e sem atitudes golpistas. Pronto. Assim funcionam as democracias. Ou deveriam funcionar.

Enquanto isso, aqui no Brasil, bolsonaristas doentes, radicais, extremistas, golpistas pedem a volta dos militares ao poder. Insistem em não aceitar o resultado democrático das urnas. Propagam fake news. Tocam o terror. Rasgam a constituição. Não há outra alternativa para os fora da lei a não ser exemplarmente punidos pela justiça. É assim que funcionam as democracias.

Murilo Cavalcanti, secretário de Segurança Cidadã da Prefeitura da Cidade do Recife e diretor da rede COMPAZ. 

 

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