OPINIÃO

Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano ainda faz história

A quietude desses acervos não representa uma solidão histórica

ROBERTO PEREIRA
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ROBERTO PEREIRA
Publicado em 24/09/2022 às 0:00 | Atualizado em 24/09/2022 às 14:26
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Fachada do IAHGP ( Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano), no bairro da Boa Vista. NA FOTO: FACHADA DO IAHGP - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), desde 28.1.1862, mantém, há 160 anos, a lâmpada votiva que se acende ao passado, na inquietude dos seus acervos e nas lembranças dos feitos deste Pernambuco altivo, vertical, deitado apenas no mapa, como nos ensina João Cabral de Melo Neto. Aquela Casa da cultura pernambucana se eleva no culto da verdade histórica, um diferencial de bravura que não se alcança por imperativos dos fatos, mas pelo que eles exprimem no contexto da história nacional.

A quietude desses acervos não representa uma solidão histórica. Andar o Arqueológico é refazer caminhos, os caminhos da nossa pernambucanidade. Ali estão os heróis antigos celebrados num poema de Joaquim Cardozo. Estes protagonistas de Pernambuco não são sombras e nem se guarda, ali, no tempo, apenas a memória da morte. Há no IAHGP uma liturgia da História, graças aos seus membros que ajudam a dar vida aos que deram e se deram aos ideais da liberdade, às ideias da Pátria, como Nação livre e soberana.

As velas da lâmpada são compromissos dos que formam aquele Instituto. Velas que foram acesas pelos heróis e pelo povo de Pernambuco nos altares da nossa História - uma história feita de tantas legendas, a qual já não pertence a um só povo, mas sim a toda uma Região, da qual o Recife foi cabeça e metrópole.

O Arqueológico tem a singularidade de ter sido o primeiro do gênero criado no âmbito dos Estados brasileiros. Teve como seu primeiro presidente o monsenhor Muniz Tavares, herói e historiador da Revolução Pernambucana de 1817.

Isto é Pernambuco na sua melhor tradição. A tradição que serviu de lastro ao presente e ao passado, que fortalece o ânimo para sermos dignos do legado desses heróis e desses mártires, que, com o seu sonho liberal, fizeram a nossa Independência e abriram à Nação brasileira os caminhos do seu desenvolvimento.

Ingressei no IAHGP, em 1975, quando ainda era presidido pelo historiador José Antônio Gonsalves de Mello. Na sequência da Presidência, estiveram ilustres valores da nossa inteligência, hoje sob a égide da insigne professora Margarida Cantarelli, uma outra legenda da cultura pernambucana.

O Arqueológico tem sido desde a sua criação um organismo vivo, dinâmico e atuante. O passado não lhe serve de sofá. Ao contrário, muitas são as iniciativas em defesa do nosso ideário libertário, seminários e conferências, a sua revista, uma permanente vigilância, mantendo acesa a lâmpada votiva - que, no IAHGP, nunca esmoreceu -, a lâmpada solitária do culto dos antepassados, que são sombras vivas em que tocamos e palavras mudas que jamais calaram.

Nunca se apagou, naquele Instituto, a chama que eterniza as nossas conquistas político-libertárias, mantendo uma lâmpada acesa ao culto imortal desses patriotas e gênios protetores da nossa liberdade e da nossa consciência de povo soberano, fiel à sua legenda histórica.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco.

 

 

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