OPINIÃO

Lugar de criança é na escola

"A gente não pode, de forma alguma, permitir que a defasagem educacional continue se agravando a cada dia que passa. Felizmente, o ano escolar de 2022 está começando com a maioria das redes estaduais e municipais optando pelo ensino presencial, obedecendo protocolos sanitários". Leia o artigo de Mendonça Filho

MENDONÇA FILHO
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MENDONÇA FILHO
Publicado em 12/02/2022 às 0:00 | Atualizado em 12/02/2022 às 13:48
Rovena Rosa/Agência Brasil
"É preciso garantir a volta de todas as crianças à escola com ações diversas" - FOTO: Rovena Rosa/Agência Brasil
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"Nenhum risco supera o risco de manter crianças mais tempo fora da escolas do que elas já estiveram", a posição da pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Margareth Dalcomo, referência nacional no enfrentamento à covid-19, é uma sentença que deve nortear o debate sobre a volta às aulas no modelo presencial. Diversos estudos apontam que a pandemia agravou o grande fosso no ensino que separa as crianças da rede pública e privada de ensino. Dados divulgados pelo Todos pela Educação mostram que o Brasil bateu recorde de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever. Saindo de 28,2% da população dessa idade não alfabetizada, em 2012, para 40,8% em 2022.

A gente não pode, de forma alguma, permitir que a defasagem educacional continue se agravando a cada dia que passa. Felizmente, o ano escolar de 2022 está começando com a maioria das redes estaduais e municipais optando pelo ensino presencial, obedecendo protocolos sanitários como uso de máscaras e a não utilização de bebedouros. A vacinação das crianças é uma medida de segurança fundamental para proteger os estudantes e toda a comunidade escolar. O combate à pandemia e a redução da letalidade da covid-19 passa por mais pessoas imunizadas.

Na volta às aulas presenciais tenho acompanhando um debate que considero absurdo. O de impedir as crianças não vacinadas de ter acesso a sala de aula. A criança não vacinada por decisão dos pais não pode ser duplamente penalizada ficando sem imunização e sem acesso ao ensino e ao convívio escolar. Infelizmente os percentuais de vacinação de crianças no país são baixíssimos. Em contrapartida, são elevadíssimos os indicadores de defasagem educacional, de perdas e de abandono escolar. Uma equação difícil de fechar.

Entre 2019 e 2021, mais de 650 mil crianças de até cinco anos saíram da escola durante a pandemia, segundo o Censo Escolar. Ao mesmo tempo, dados do Ministério da Saúde mostram que apenas cerca de 15% das crianças entre 5 e 11 anos foram vacinadas. O Brasil tem uma cultura de vacinação e acumula defasagem educacional. Querer fechar a porta da escola para as crianças não vacinadas, ao invés de mobilizar a sociedade em geral para propagar e incentivar a vacinação das crianças, é contribuir para aumentar as desigualdades e condenar os mais pobres a mais exclusão.

Em tempos difíceis não há soluções fáceis. É preciso garantir a volta de todas as crianças à escola com ações diversas, com foco no acolhimento e na proteção das crianças mais vulneráveis socialmente. Recuperar o tempo e o aprendizado perdidos num sistema que tem uma defasagem histórica é um enorme desafio. Impactos psicossociais, perdas na aprendizagem, abandono escolar e o aumento das desigualdades reafirmaram a importância da escola. A escola faz muita falta não apenas pelo papel social do ambiente escolar para o aprendizado, como pela rede de direitos e de proteção social.

Mendonça Filho, ex-ministro da Educação e consultor da Fundação Lemann

 

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