A palavra beócio assumiu protagonismo como apodo às autoridades nacionais
"Somos responsabilizados pela crise ambiental, nos atacam pelo radicalismo de direita do governante, criticam a má gestão no combate à pandemia e investidores abdicam de aportar capital pelos desencontros da economia". Leia o artigo de Otávio Santana do Rêgo Barros

Segundo o dicionário Houaiss (Objetiva, 2009):
Beócio adj. s.m. (1871) 1 relativo à Beócia, região da antiga Grécia ao Norte e Noroeste da Ática, ou o seu natural ou habitante [...] 3 p.ext. infrm. pej. que ou o que não possui conhecimentos suficientes em determinado domínio; ignorante [...].
A Beócia era uma região agrícola, com comércio de pouca relevância e seus habitantes considerados iletrados pelos vizinhos das cidades mais desenvolvidas.
Foi esse preconceito que deu origem ao significado da palavra "beócio". Somou-se o fato de que o dialeto local não tinha relevância literária. Seus intelectuais escreviam em dórico. O mundo falava em grego.
Recentemente, no artigo "Parlamentarismo numa hora dessa?", da professora Celina D'Araújo, publicado no Estadão, e em um vídeo no Youtube, do historiador Marco Antonio Villa, a palavra beócio assumiu protagonismo como apodo às autoridades nacionais.
É necessário cuidado ao citá-la, pois, apesar do estigma, foram beócios Píndaro e Plutarco.
A discussão se entreteve nas dificuldades que o país apresenta para clarear sua postura e comportar-se construtivamente no contexto das nações.
Somos responsabilizados pela crise ambiental, nos atacam pelo radicalismo de direita do governante, criticam a má gestão no combate à pandemia e investidores abdicam de aportar capital pelos desencontros da economia.
Incontestável pelo que vimos nos últimos dias. "A confiança perdida é difícil de recuperar, afinal, não cresce como as unhas" (Joahannes Brahms).
Mas somos os únicos vilões? Por falta do comunicar, nos trumbicamos. Lembranças do velho Guerreiro Chacrinha! Vendemos mal a imagem do país.
Falta uma boa campanha de divulgação, com qualidade e viés técnico. Esqueçam-se as tolices que só têm efeito em redomas das mídias sociais.
Falta aos governantes cultura civilizacional para exercer o poder, para compreender a geopolítica, para traduzir desejos e cobrar posturas.
Falta liturgia. Essa liderança precisa estar acima da educação formal e deve se reforçar com o escudo da ética e uma boa dose de inteligência emocional.
O desassossego a que somos submetidos interna e externamente pode ser fruto do insuficiente domínio da arte de governar, ou, o que defendo, do falarmos em dórico quando os outros falam em grego.
Ambas as características, presentes nos beócios. As imagens da reunião do G20 e da COP26 parecem corroborar essa opinião.
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão R1
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