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Será que existem diferenças entre ouvir e escutar?

"À medida que as gerações avançam, as pessoas ouvem mais que escutam". Leia o artigo de Gustavo Figueirêdo

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GUSTAVO FIGUEIRÊDO

Publicado em 20/10/2021 às 6:10
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Será que existem diferenças entre ouvir e escutar? Não só existem como, à medida que as gerações avançam, as pessoas ouvem mais que escutam. Como assim? Imaginemos cada um em suas casas, quando é propagado da rua, um som de: socorro!!!! O soar de socorro pode ser por vários motivos: ou porque alguém levou uma queda, ou porque está sendo assaltada, ou por tantas outras razões. Neste caso, para os que permanecem em casa, apenas ouviu o som. Diferente de quem foi ao local prestar socorro. Ali compreendeu o ocorrido.

Assim é o processo psicoterapêutico: o exercício da compreensão. Haja vista, o que o psicólogo clínico exerce é - a escuta psicoterapêutica. Certo dia, recebi uma mensagem de um amigo, de autor desconhecido, a qual dizia: "eu sou do tempo do disco de vinil, por isso aprendi que só se escuta tudo quando se escuta os dois lados.". Esta passagem é uma excelente analogia para o que está sendo discorrido aqui.

Repito, analogia! Na época dos vinis, as pessoas escutavam os dois lados. À medida que as gerações e a tecnologia vão avançando, as pessoas passam a escutar menos, ou ficar menos entretidos com o próximo. Não obstante, depois do vinil, surge o CD. Este é escutado, apenas, por um lado. E no mundo pós-moderno, o que existem são as plataformas de músicas digitais, tipo: spotify. Onde, nessas, não precisamos estar em nenhum lado. Até porque, tudo é virtual. Compreende que, ouvir, vem tomando posse de escutar?

No mundo atual, encontramo-nos ou nos relacionamos, muitas vezes, virtualmente. As redes sociais que nos digam. A vida cibernética, acredito que surgiu, para nos ajudar: no tempo, no espaço e em conhecimento. Haja vista, cada vez mais rápido, e cedo, estamos tendo conhecimento das coisas. A tristeza é que passamos a nos relacionar com menos qualidade, ouvindo mais do que escutando. Construindo relações, seja: no trabalho, na família, ou...; cada vez mais - incompreensivas. Permutando, muitas vezes, nos lugares das escutas as: intrigas.

Com isso, as relações vêm estando cada vez mais machucadas. Muitas e muitas brigas surgem porque, a escuta, ou a compreensão ao outro, não foram proclamadas. Vem de posse aquele jargão: "Entra pelo um ouvido e sai pelo outro.". Compreende a razão do ouvir, e não mais do escutar?

Por fim, caro leitor, eis a questão! Metaforicamente, com que te identificas? Com vinil, CD ou plataformas de músicas digitais? (risos) Ou seja, vossa pessoa ouve ou escuta as relações às quais estejam inseridas?

Gustavo Figueirêdo, especialista em Saúde Mental e psicólogo clínico

 

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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