As mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda
"A história tem suas tramas. Seus designíos. E seus mistérios". Leia a opinião de José Paulo Cavalcanti Filho
Em menos de um mês, faleceram os ex-presidentes Juscelino Kubitschek (22/8/1976, domingo passado mais um aniversário dessa data) e João Goulart (6/9/1976, em Mercedes, Argentina). Pouco depois, Carlos Lacerda (21/5/1977, no Rio). Os 3 principais líderes políticos de oposição à Ditadura. E a ideia de que tenham sido assassinados por agentes do Governo Militar se alastrou, no imaginário coletivo. Mas o que aconteceu de fato? Eis a questão. Com relação a Lacerda, sua família sempre acreditou que a morte se deu por conta de um câncer que o roeu, sem piedade, por anos. E nunca teve interesse em maiores investigações. O caso de Jango ainda está sob exame - com fragmentos de seus ossos, hoje, em laboratórios especializados de Portugal e Espanha. Para identificar a presença (ou não) de cianureto. O terceiro é JK. No momento de sua morte, para o povo brasileiro, a mais nítida esperança de voltar à democracia numa eleição direta. Era domingo e JK voltava para casa. Já escuro.
Na Rodovia Pres. Dutra, Km 165, seu Opala saiu do traçado e abalroou ônibus da Viação Cometa. Provavelmente, cochilo do motorista. Então passou para a outra pista, onde vinha um caminhão SCANIA com 30 toneladas de gesso. Foi ele o responsável pelas mortes de JK e seu motorista Geraldo Ribeiro. Mas, fosse mesmo um atentado, e certamente o local escolhido seria outro. Não no plano em que se deu. Provavelmente uma curva, junto a precipício. E último veículo do mundo que se utilizaria seria um ônibus. Lento. E cheio de passageiros (40), testemunhas da tragédia. Melhor carro sem placa. E rápido. As outras hipóteses, não se sustentam. Não houve bomba, posta no veículo e disparada à distância. Por não haver qualquer resíduo de plástico ou pólvora, no chão da estrada ou no veículo. Nem tiro de precisão na cabeça do motorista de JK; que o crânio de Geraldo Ribeiro, segundo se vê nas fotos da época, não tinha qualquer lesão.
Em resumo, foi mesmo apenas um acidente automobilístico (quem tiver maior interesse no caso basta acessar, pela internet, laudo com seus anexos no site da CNV). A história tem suas tramas. Seus designíos. E seus mistérios. Porque o Regime Militar certamente ficaria feliz em ver morto JK. Um risco a menos. Mas é como se o destino, esse "Deus sem nome" como queria Pessoa (carta a Henry More), tivesse agido antes. Essa é a verdade.
José Paulo Cavalcanti Filho, advogado
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