Não há infância feliz sem compartilhar as aventuras dos tios
"Tive sorte de ter dez tios maravilhosos, que me contavam estórias fantásticas e me tratavam com carinho - entre eles, tio Luiz, nascido Luiz Martins Catharino Gordilho, em 15 de agosto de 1921, em Salvador". Leia o texto de Arthur Carvalho

Todo menino curte seu tio preferido. Tive sorte de ter dez tios maravilhosos, que me contavam estórias fantásticas e me tratavam com carinho - entre eles, tio Luiz, nascido Luiz Martins Catharino Gordilho, em 15 de agosto de 1921, em Salvador, e assinava Luiz Catharino. Filho de Almir de Azevedo Gordilho e Úrsula Martins Catharino, casou-se com Ana Maria, irmã mais nova de minha mãe, Amália Maria, e faleceu no dia 20 de novembro de 2005, aos 84 anos, estando prestes a completar 100 anos de nascimento.
Diretor Presidente da Companhia Progresso e União Fabril da Bahia, firma com atividade de Administração de Bens Próprios e controladora de diversas fábricas de indústrias têxteis, ficou conhecido em sua passagem nessas empresas como administrador competente, igualitário e com poder de liderança.
Presidente do tradicional Bahiano de tênis (1962/1964 e 1968/1978), foi também presidente do Esporte Clube Vitória em 1953. O veterano Leão da Barra, eterno rival do caçula Bahia, chegava quase sempre às finais sem nunca ter levantado a taça. Quando ele foi seu presidente, comprou um time inteiro, pagando de seu bolso, e mandou buscar Quarentinha no Maranhão. De tão bom, Quarentinha foi o artilheiro do campeonato e depois vendido ao Botafogo do Rio.
Avesso a viagem de avião, quando o convidei para abrilhantar certo Grande Prêmio Bento Magalhães, ele trouxe os dez puros- sangues de sua coudelaria, estabelecida em Lauro de Freitas, e embarcou com a família e três jóqueis pro Recife. Qual sobrinho não gostaria de ter um tio desse? Sem vício, sublimava as amarguras da vida curtindo futebol, cavalo de corrida, passarinho, cães de raça e objetos de arte.
Bom marido, bom pai de família, bom chefe e bom patrão, empresário e desportista realizado, era discreto, detestava honrarias e badalações, encontrando tempo para ser generoso, popular, carismático e estimado pela sociedade baiana. Ao falecer, deixou viúva, filhos, netos e bisnetos.
Relembro meus queridos tios José de Barros Cavalcanti, os irmãos Demosthenes, Péricles e Demades Madureira de Pinho e os irmãos Eugênio de Oliveira e Heitor Eduardo de Oliveira, Aloysio de Carvalho Filho, Orlando Gomes e Mário Marques de Souza. Não há infância feliz sem compartilhar as aventuras dos tios, sejam eles paternos ou maternos. Por onde passou, tio Luiz Catharino fez amizades e deixou saudades. Sua religião era ser cidadão de bem e pagar a quem devia.
Arthur Carvalho, Academia Pernambucana de Letras - APL
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