O amor paterno se manifesta na singularidade
"Regozijo-me na jornada quando, na recalcitrância de um amar superlativo, encontro a felicidade em plenitude. O avassalador sentimento mostra a medida quando vejo que é das suas conquistas que vêm as minhas maiores alegrias". Leia o texto de Ronnie Preuss Duarte

Amanhã o dia é dos pais. E, aos meus filhos, hoje e sempre, o desejado presente é a generosidade na compreensão. Quem cruzou os limites da infância já pôde descobrir que não somos capazes da concretização terrena da desejada perfeição. O super-herói idealizado na mais tenra idade é, sobretudo, uma pessoa. E dessa condição humana verte, invariavelmente, uma miríade de defeitos.
O amor paterno se manifesta na singularidade: é único. Vejo a vida e o mundo do meu jeito. Senti as minhas dores e sofri as influências dos vários arquétipos. Sei que há pais menos atribulados (e mais presentes) do que eu. Sei que existem pais mais amorosos, pais mais preocupados, pais mais complacentes (e menos rigorosos) e, seguramente, que há muitos pais bem melhores do que eu. Mas a realidade é que só eu sou o seu pai, para sempre, seguindo (e segundo) a vontade de Deus.
E para mim a paternidade é missão estruturadora de matriz divina. Dentro do respectivo exercício, sempre acreditei que os caminhos mais fáceis conduzem a destinos indesejáveis, porquanto por demais incertos. Na laboriosa jornada de formação do indivíduo, assumo deveres incontornáveis: cultuar a fé e os valores, solidificar o caráter na disciplina e educar são alguns deles. Resigno-me à condição de antipatia sabendo que, na travessia do espicaçado mar da adolescência, receberei a cobrança de algum preço em rebeldia, na certeza de que com a maturidade virão a bonança e o entendimento.
No dom da paternidade, encontrei como dádiva a culminância da minha existência. Levando em si algo de mim para as gerações futuras, meus filhos conseguem iludir a minha certeza da finitude material, ensejando, numa dimensão física, o flerte com a imortalidade.
Nesta breve passagem terrena, gostaria de deixar neles o melhor que, em virtude, o Mundo possa prover. Regozijo-me na jornada quando, na recalcitrância de um amar superlativo, encontro a felicidade em plenitude. O avassalador sentimento mostra a medida quando vejo que é das suas conquistas que vêm as minhas maiores alegrias. Quando sinto que, só nas suas desilusões, o desengano é insuperável. Quando percebo que, apenas em seu sofrimento, pereço, excruciado pela dor. Por isso, a cada dia, em oração, agradeço pela profunda e indescritível oportunidade de ser Pai.
Ronnie Preuss Duarte, advogado e pai de Pedro, Maidi, Marina e Lis
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