O espelho de um narciso

Otávio Santana do Rêgo Barros
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Otávio Santana do Rêgo Barros
Publicado em 21/11/2020 às 2:00
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"Gosto de elogios, como os meninos gostam de doces." (Gilberto Freire).

A mitologia grega, com tantas figuras e passagens a representar aspectos positivos e negativos da vivência humana, ainda se constitui em uma referência filosófica para indivíduos e sociedade moderna.

Narciso, um desses personagens, se caracterizava por sua beleza, mas igualmente por sua arrogância e individualismo. A maldição que a ninfa Eco lhe impôs, o impedia de mirar-se no espelho d'água. Se o fizesse, mirraria até a morte. Não resistindo, se arriscou e pereceu à margem de calmo riacho.

Os narcisistas de hoje também agem assim, não resistem à sua beleza e se hipnotizam até a morte, seja ela moral ou emocional. Quando líderes, não devem governar mirando-se em espelhos. Se o fazem, têm a sua capacidade de julgamento toldada por este egocentrismo.

Nos últimos anos assistimos a países serem conduzidos por governantes que têm comportamentos semelhantes a Narciso. Voltados unicamente para conquistas pessoais (egoísmo) e para atendimento da sua cupidez (ambição), impedindo-o de ter o domínio psicológico sobre si mesmo.

Alguns destes líderes têm como referência outros líderes mais poderosos e igualmente narcisistas. Isso se desvenda em razão de que lhe falta, a esse líder subalterno, escopo político, ideológico e intelectual.

Se o seu narciso predileto é ofuscado pela ação democrática da população, pelo voto, o subalterno sente o chão se romper e um abismo se abrir. Suas referências se esvaem e a insegurança assume o comando de sua personalidade. Quando isso sucede, o reflexo da sua imagem no espelho se lhe revelará distorcida, como se fora alguém que ele cogitasse ser, mas não o é.

Produz-se em sua mente a transformação de moinhos de vento em cavaleiros desonrados e o Dom Quixote que vive nele parte com lança em riste para o ataque ao inimigo ilusório. O choque contra as pedras pontiagudas da torre deixa marcas doloridas.

Se alguém lhe oferece o regaço, ainda que por interesses escusos, o líder inseguro corre para o aconchego e se expõe às estratégias elaboradas pelo urso em pele de urso.

Nesse caso, a sociedade desses países deve agir sob pena de ser envolvida em táticas das quais não possui o domínio sobre os cordões da marionete e como consequência, resultados nada vantajosos se apresentarão. Muito sangue, suor e lágrima verterão pela inépcia dos líderes narcisistas.

Quebrem o espelho do narciso quando lhe for dada, a você eleitor, a oportunidade. Sem espelho, ele não se enxergará. Sem se enxergar, não se adorará. Sem se adorar, não nos prejudicará.

Otávio Santana do Rêgo Barros, ex-porta-voz do governo Bolsonaro

 

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