Quinze contos

Arthur Carvalho
Cadastrado por
Arthur Carvalho
Publicado em 21/10/2020 às 2:00
Leitura:

Telefonema do jornalista Fernandinho Mendonça, dizendo que está organizando um livro de contos e me pedindo para listar meus dez preferidos. Essas listas são difíceis, estamos sujeitos a cometer injustiça e esquecimento, mas vamos lá.

Gosto muito de Última corrida de touros em Salvaterra, do escritor português Rebelo da Silva. Como o texto é um pouco longo, muita gente não lê, o que é uma pena. Os contos de Machado de Assis mais citados são O Alienista e Missa do Galo, mas o meu preferido é Luís Soares, que trocava o dia pela noite, e achava que as coisas mais inúteis, deste mundo, eram a Câmara dos Deputados, missa, jornal e a obra dos poetas.

De Hemingway, não esqueço de A vida breve e feliz de Francis Macomber, e, de Jorge Amado, De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto. De Maupassant, não tem como escapar de Bola de sebo. De Flaubert, o comovente Um coração Simples, de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway, e, de Katherine Mansfield, Numa pensão alemã.

O problema é escolher o melhor de Clarice Lispector. Fico com Uma galinha. Dostoiévski dizia que a literatura russa descendia de O Capote, de Gógol, mas o conto russo que mais me impressionou foi A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. Não posso olhar para um funcionário público que não me lembre desse pobre barnabé.

Tenho a impressão de que Tchekhov, além de grande dramaturgo (ele achava que as dançarinas de balé não cheiravam bem) e muito invejado por Dostoiévski, por ser mais bonito que o autor de Noites Brancas, foi o maior contista moderno. Gosto de seu A Dama do Cachorrinho.

Pronto, amigo Fernandinho, já arrolei quinze contos. Segundo os entendidos no assunto, o conto é o gênero literário mais complexo, porque exige concisão do autor. Quando jovem, eu era metido a contista. Acho que, pra tirar sarro comigo, Mauro Mota me apresentava às pessoas como conteur. O primeiro conto que publiquei, faz tempo, chamava-se O ritual - saiu na Revista Nordeste, editada pelo jornalista Esmaragdo Marroquim, sendo ilustrado pela pintora Ladjane Bandeira. Inspirado na vida atribulada e trepidante do lendário craque Heleno de Freitas, passava-se num campo baldio, à margem do Rio Capibaribe, no bairro da Jaqueira, onde eu costumava jogar pelada com Odilon Maroja. Foi recebido com silêncio sepulcral e solene desprezo pela crítica literária da província, ocupada com coisas mais sérias de autores famosos e consagrados. Fazer o quê?

Arthur Carvalho, é da Federação Internacional dos Jornalistas - FIJ

 

Comentários

Últimas notícias