Conclave mais longo da história durou quase três anos e provocou mudanças no processo
Com sede vacante aberta após morte de Francisco, Igreja se prepara para novo conclave; eleição mais longa durou 33 meses entre os séculos XIII e XIV

O Papa Francisco faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, na Casa Santa Marta, residência oficial no Vaticano. Jorge Mario Bergoglio enfrentava problemas respiratórios nos últimos meses e chegou a ser hospitalizado em fevereiro com um quadro de pneumonia.
Apesar da alta no fim de março, seu estado de saúde seguia delicado. A última aparição pública foi no domingo de Páscoa, quando concedeu a bênção Urbi et Orbi (para a cidade e o mundo).
Com sua morte, tem início o período de sede vacante, quando a Igreja Católica se organiza para a eleição de um novo pontífice por meio do conclave, reunião que ocorre na Capela Sistina com a participação dos cardeais com menos de 80 anos. Esse processo costuma durar poucos dias — mas nem sempre foi assim.
Um conclave que entrou para a história
O mais longo conclave da história da Igreja Católica aconteceu entre 29 de novembro de 1268 e 1º de setembro de 1271, durando exatos 33 meses. A eleição ocorreu na cidade de Viterbo, na Itália, e elegeu o Papa Gregório X.
A demora foi motivada por intensas disputas políticas entre os cardeais eleitores, divididos entre interesses ligados ao Império Germânico, à monarquia francesa e aos nobres italianos.
O impasse foi tão prolongado que a população local interveio. Em um ato simbólico e de pressão direta, os cidadãos de Viterbo trancaram os cardeais no palácio episcopal, reduziram suas refeições e até removeram o telhado do local, deixando os religiosos expostos ao sol e à chuva. A medida extrema tinha o objetivo de forçar um acordo e acelerar a decisão.
Ainda assim, o processo só foi concluído após quase três anos, quando os cardeais concordaram em nomear um candidato que não fazia parte do colégio eleitoral: Teobaldo Visconti, arcediago de Lião, que nem sequer era bispo na época.
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Resultado provocou mudanças
A experiência traumática do conclave de Viterbo levou à criação de regras mais rígidas para a escolha dos papas.
Em 1274, já como pontífice, Gregório X instituiu a bula Ubi periculum, que formalizou o sistema de clausura dos cardeais durante o conclave — origem do termo cum clavis (“com chave”) — e estabeleceu restrições progressivas de alimentação caso a votação se prolongasse.
A Ubi periculum deu origem ao modelo de eleição papal que, com adaptações ao longo dos séculos, permanece em vigor até hoje. As medidas visavam evitar futuras paralisações e manter o foco dos cardeais no discernimento espiritual, afastando pressões externas.
Hoje, conclaves mais curtos
Desde a adoção das normas mais rígidas, os conclaves passaram a ser mais breves. O mais curto da história recente foi o que elegeu o Papa Pio XII, em 1939, com apenas dois dias de duração. Já o conclave que escolheu Francisco, em 2013, durou cinco votações ao longo de dois dias.
Com a morte do Papa Francisco, espera-se que o novo conclave ocorra nos primeiros dias de maio, respeitando o prazo de 15 a 20 dias após o falecimento, conforme previsto na constituição apostólica Universi Dominici Gregis.