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Francisco propõe economia do cuidado na Via-Sacra: "Deus não descarta, repara"

O Papa Francisco, embora não tenha participado presencialmente, foi o autor das meditações que marcaram cada uma das 14 estações da celebração

Por JC Publicado em 18/04/2025 às 23:02

A tradicional Via-Sacra da Sexta-feira Santa foi celebrada no Coliseu de Roma reunindo cerca de 20 mil fiéis para rememorar os passos da Paixão de Cristo. O Papa Francisco, embora não tenha participado presencialmente, foi o autor das meditações que marcaram cada uma das 14 estações da celebração.

Conforme relatado pelo site Vatican News, as reflexões propostas pelo Pontífice foram centradas na conversão do mundo e na compaixão de Deus diante das dores da humanidade. O Papa convidou os fiéis a um profundo exame de consciência sobre o papel de cada um diante do sofrimento do próximo.

Nas meditações propostas pelo Papa, destaca-se o chamado a abandonar perspectivas rígidas para acolher o que ele chama de “economia de Deus” — uma lógica que, ao contrário das estruturas humanas, “não mata, não descarta, não esmaga”.

Na VII estação da Via-Sacra, o Pontífice contrapõe essa visão divina à das economias contemporâneas, pautadas por “cálculos e algoritmos, lógicas frias e interesses implacáveis”.

A cerimônia foi presidida pelo cardeal Baldo Reina, vigário geral da Diocese de Roma, que conduziu o rito em nome do Papa Francisco. A cruz foi carregada por diferentes grupos ao longo do percurso, representando a diversidade e a unidade da Igreja. Entre os participantes estavam jovens, voluntários, uma família, consagrados e o próprio vigário.

Segundo o Vatican News, a escolha dos grupos que conduziram a cruz reflete a intenção do Papa de mostrar que o caminho da cruz é percorrido por toda a humanidade, em suas diferentes experiências e condições de vida. A presença de crianças e famílias evidenciou a dimensão comunitária e intergeracional da fé cristã.

A iluminação com velas deu um tom de silêncio e contemplação à cerimônia, enquanto as palavras do Papa conduziam a assembleia à oração. Em várias estações, os textos denunciaram a violência, as guerras e as desigualdades, lembrando que Jesus continua a carregar a cruz nos irmãos que sofrem hoje.

Um dos momentos mais simbólicos da celebração foi a oração final, inspirada nos escritos de São Francisco de Assis. A súplica, proferida pelo cardeal Reina, buscou unir os fiéis na esperança de um mundo mais justo e fraterno, como desejado pelo santo de Assis e pelo Papa que leva seu nome.

A Via-Sacra no Coliseu é um dos momentos mais marcantes da Semana Santa no Vaticano. Neste ano, mesmo sem sua presença física, o Papa Francisco buscou, por meio da palavra escrita, estar espiritualmente próximo dos fiéis.

As meditações, intituladas "Em oração com Jesus no caminho da cruz", foram escritas pelo Papa Francisco no contexto do Ano da Oração, como preparação para o Jubileu de 2025.

Nelas, o Pontífice propõe um diálogo íntimo com Cristo, abordando temas como a guerra, a violência contra as mulheres, o sofrimento das crianças, o abandono dos idosos e a exclusão social. Em uma das estações, o Papa destaca o silêncio de Jesus diante de um julgamento injusto, convidando os fiéis a refletirem sobre a importância da escuta e da oração em meio às adversidades.

Em outra reflexão, Francisco aborda o peso das cruzes cotidianas, como dores, decepções e fracassos, questionando: "Jesus, como se faz para rezar ali?". O Papa enfatiza que Cristo se aproxima dos que sofrem, carregando suas cruzes e oferecendo descanso. Na estação em que Jesus cai, o Pontífice ressalta que o amor é a força que impulsiona a levantar-se novamente, pois "quem ama não fica no chão, começa de novo; quem ama não se cansa, corre; quem ama voa".

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