Minerais críticos: Brasil precisa proteger reservas dos interesses de Trump, alerta presidente do IBRAM
Raul Jungmann alerta que o Brasil deve fortalecer sua política mineral para evitar exploração externa e garantir autonomia sobre suas reservas

Desde a campanha eleitoral, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem ameaçando fazer intervenções em diversas partes do mundo, como anexar a Groenlândia, uma região autônoma do Reino da Dinamarca, e tornar o Canadá, o segundo maior país do mundo, no 51º estado americano.
Em comum, os dois lugares têm algo que interessa muito aos Estados Unidos: grandes reservas de minerais críticos, como lítio, cobalto, níquel e os chamados terras-raras, minerais que estão no centro da corrida por desenvolvimento tecnológico e energético do mundo.
Os Estados Unidos também estão de olho nas reservas de minerais críticos da Ucrânia. Trump quer permissão para explorar as terras do país como uma das condições para um acordo de paz na guerra que os ucranianos travam com a Rússia.
Com as investidas do presidente norte-americano, o Brasil, que possui um território rico em minerais críticos, embora ainda pouco explorado, também deve entrar na mira estrangeira.
Em entrevista ao Passando a Limpo da Rádio Jornal, nesta terça-feira (11), o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, disse que esses minerais “são um passaporte para o futuro” do país, e que, por isso, é preciso se defender dos interesses estrangeiros, mas de forma diplomática, “sem cair na pilha de Trump”.
“O Brasil precisa, efetivamente, estar alerta e se defender, porque a pressão, ela vai vir”, afirma Jungmann.
Ele diz que é necessário buscar defesas comerciais e formar aliados, especialmente na América do Sul, onde países vizinhos do Brasil, como Bolívia e Argentina, ricos em Lítio, metal indispensável para a indústria eletrônica, também devem sofrer investidas de potências como os Estados Unidos.
“O Brasil tem que se associar com esses países e procurar, efetivamente, uma defesa diplomática”, diz.
Por que minerais críticos são tão visados?
Jungmann explica que os minerais críticos passaram a ser uma preocupação de grandes potências porque são essenciais para a indústria energética e para a tecnologia e inovação.
No setor energético, os minerais críticos são utilizados em baterias de carros elétricos, aerogeradores - que produzem energia a partir dos ventos - e em placas voltaicas para aproveitamento da energia solar; por isso, são essenciais para a transição energética de combustíveis fósseis para fontes renováveis e menos poluentes.
“Se a gente quer passar um mundo onde a energia é fóssil, não renovável, a energia do petróleo, que está gerando a emergência climática, a gente precisa dos chamados minerais críticos”, diz o especialista.
Esses minerais também são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico dos países, porque são empregados na fabricação de eletrônicos, como chips usados em smartphones e em hardwares empregados no desenvolvimento de inteligências artificiais.
“Sem eles, setores da economia não vão para adiante, não se desenvolvem”, afirma o presidente do IBRAM. “Por isso, Trump está de olho, o mundo está de olho, e o Brasil tem grandes reservas desses minerais críticos”.
Segundo a Agência Internacional de Energia, no ano de 2023, o mercado para minerais críticos no mundo era 320 bilhões de dólares. Em 2030, será 1 trilhão de dólares.
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Brasil ainda explora pouco o potencial dos minerais críticos
Se o Brasil tem grandes reservas de minerais críticos e eles são tão estratégicos, por que esse potencial ainda é pouco explorado? “Nós não temos uma estrutura de financiamento, uma estrutura de regulação adequada para as nossas potencialidades”, responde Jungmann.
Ele explica que isso ocorre devido a quatro fatores:
O primeiro é o fato de o Brasil conhecer pouco seu próprio subsolo. Segundo o especialista, o Serviço Geológico Brasileiro, que existe há 50 anos, só mapeou 27% do território nacional.
Outro problema é a lentidão na aprovação de licenças ambientais. Jungmann diz que as licenças levam de cinco a sete anos para serem emitidas, o que desestimula investidores no setor.
“Nós não estamos pedindo afrouxamento inato, não estamos pedindo que não seja rigoroso. Nós estamos pedindo que sejam ágeis”, justifica o presidente do IBRAM.
Também por isso, mas não só, ele diz que outro fator limitante da exploração do potencial mineral do Brasil é a falta de investimentos. “É escasso o capital, é escasso o crédito para ser explorado”, diz. No país, por exemplo, existem apenas três empresas do setor na Bolsa de Valores, enquanto em Toronto, no Canadá, também rico nesses minérios, há 42.
Por fim, Jungmann diz que o Brasil não tem uma política nacional de exploração de minerais críticos, enquanto, segundo o IBRAM, 16 países já têm políticas sobre esses minerais. “Passou a ser uma questão de segurança nacional, de geopolítica nacional, mas nós não temos.”
“O Brasil teria uma grande contribuição a dar ao mundo, à própria humanidade. Mas, por conta desses fatores, nós não temos uma produção, uma exploração e industrialização compatível com as possibilidades e as potencialidades que o Brasil tem”, conclui.