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YOM KIPUR – reflexão e perdão

Os judeus celebraram recentemente o Rosh Hashaná, o ano novo judaico e o Yom Kipur, o Dia do Perdão, período de dez dias de reflexão e arrependimento

Por JC Publicado em 05/10/2025 às 0:00

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JADER TCHLITSKY
Recentemente, judeus do mundo inteiro celebraram o Rosh Hashaná, o ano novo judaico e o Yom Kipur, o Dia do Perdão. Estão inseridos em um período de dez dias, destinados a um balanço de nossas vidas, reflexão, arrependimento por nossas faltas, retorno à nossa essência, pedidos de perdão a Deus, ao próximo e a nós mesmos. E acima de tudo a um aperfeiçoamento pessoal, à tomada de atitudes que contribuam para melhorar a vida em nosso entorno, à sociedade, ao mundo em que vivemos.
Judeus e judias mundo afora não têm vivido momentos fáceis. A prolongada guerra em que Israel foi envolvido, motivada pelo terror promovido pelo Hamas, sob o comando do estado fundamentalista do Irã, trouxe consequências terríveis para a vida judaica.


Preconceitos latentes, desinformação, levaram a uma escalada de antissemitismo numa forma que não se via desde a época do surgimento do nazismo. O povo judeu, em sua essência, sempre pregou a paz e a harmonia entre os povos. Legou à humanidade o “Livro dos Livros”, contendo valores civilizatórios, que ensinam sobre nosso papel, enquanto seres humanos, de sermos parceiros do projeto divino de construir um mundo cada vez melhor.


Ao longo da história, foi alvo das mais diversas perseguições, massacres, desterros culminando com o genocídio nazista. Mas se manteve firme no propósito de seguir numa visão otimista sobre os caminhos da humanidade. E consciente do papel que nos cabe neste processo.
Nestes dez dias intensos que foram vivenciados entre o Rosh Hashaná e o Yom Kipur, nunca se revelou tão difícil compreender e aplicar o pedido de perdão e a aceitação do perdão. E tentar entender as ofensas, o ódio recebido, na maior parte das vezes não seguido de arrependimento ou de simples pedidos de desculpas.


Como perdoar os que nos atacam pelas redes sociais, reverberando os velhos ataques que sempre buscaram nos desumanizar?


Como perdoar aqueles que saíram às ruas para apoiar, não os legítimos direitos do povo palestino, provavelmente não atendidos por fatores muito complexos, mas que saíram às ruas para apoiar um grupo terrorista que afronta os mais básicos conceitos da civilização? Um grupo que matou pais na frente dos filhos, queimou crianças vivas, estuprou mulheres e que celebrou essas barbaridades transmitindo essas imagens. E que não esconde de ninguém que repetirá tais atos tantas vezes quanto se sentirem fortes para tal. E que o fará em proporções muito maiores, se encontrarem o caminho aberto e o apoio necessário para assim o fazer.
Como perdoar os que sequer se disponibilizam a ouvir algo distinto das crenças arraigadas, tantas vezes baseadas em panfletos, sem o menor embasamento para justificar qualquer posicionamento coerente?


Como perdoar setores da mídia, da diplomacia, da academia que se prestaram ao serviço de serem porta-vozes de um grupo terrorista, reverberando suas informações como se fossem verdades inquestionáveis?


É um difícil exercício. Porém, mais do que nunca, extremamente necessário.
Porque continuamos a acreditar na humanidade.
Porque precisamos acreditar na humanidade.


E trabalhar e sonhar pelo cumprimento das profecias bíblicas que dizem que num certo futuro o lobo habitará com o cordeiro e uma criança os conduzirá.
Sempre há os que põem mais lenha na fogueira. E há os que jogam água na fervura, buscando o apaziguamento, caminhos de concórdia.


Que todos nós sejamos capazes de aprender com o espírito do Yom Kipur, a fazermos nossas reflexões, identificar nossas faltas, pedir perdão a quem de direito, mudar nossas condutas e trabalhar para construir uma nova era para a humanidade. Shalom!


Jader Tachlitsky é economista, professor de cultura judaica e história judaica, coordenador de Comunicação da Federação Judaica de Pernambuco.

 

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