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Lembrar-se dos pobres: fundamento bíblico

A missão da Igreja é tornar-se sempre fiel ao seu chamado de ser "sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano"

Por JC Publicado em 04/05/2025 às 0:00


DOM NEREUDO FREIRE HENRIQUE
“Somente nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com empenho.” Gl 2,10


Ser acolhido na Igreja Particular da Arquidiocese de Olinda e Recife, como bispo auxiliar, é, ao mesmo tempo, uma graça singular e uma exigente responsabilidade. Esta missão, confiada pela Igreja, insere-me mais profundamente na comunhão hierárquica e fraterna, como colaborador do Sr. Arcebispo, no exercício da tríplice função de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus. Desejo viver esta vocação na escuta orante da Palavra, na celebração fervorosa da Eucaristia e na comunhão sincera com o clero e com todos os fiéis desta amada Arquidiocese, caminhando juntos, como irmãos na fé, a serviço do Reino de Deus — e sempre com a intercessão da Virgem Mãe de Deus, modelo de discípula e estrela da nova evangelização.
Assumo este ministério com humildade, fé e espírito de serviço, consciente de que o episcopado não é honra, mas ministério. Desejo, com a graça de Deus, anunciar o Evangelho com autenticidade, carregar a cruz com generosidade e servir com amor cada irmão e irmã, especialmente os mais pobres e esquecidos, à semelhança de Cristo, Bom Pastor, que veio “para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Ele deve ser sempre a referência suprema de nossa vida e missão. Como discípulos e discípulas do Senhor, somos chamados a caminhar com os olhos fixos n’Ele (Hb 12,2), deixando-nos conduzir por sua Palavra e por seu Espírito, para que nossas ações, escolhas e atitudes reflitam o rosto misericordioso do Pai.


O retorno à minha terra natal, Pernambuco, reveste-se de um sentido especial. Esta terra fecunda, marcada pela fé e pela resistência, carrega em sua história a força de um povo que, desde os tempos coloniais, se ergueu na defesa da liberdade, da dignidade e da esperança. A cultura pernambucana é expressão viva da diversidade, da criatividade e da religiosidade popular, que são sinais da presença do Espírito na vida do povo.


Neste contexto, a missão da Igreja é tornar-se sempre mais fiel ao seu chamado de ser “sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). Somos convidados a pôr em prática, com renovado ardor, as intuições do Concílio Vaticano II, que nos conclama a ser uma Igreja viva, sinodal, participativa e missionária. Como nos afirmou o Papa Francisco: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Discurso na Comemoração dos 50 anos do Sínodo dos Bispos, 2015).
Desejo empenhar-me para que a Arquidiocese de Olinda e Recife continue a ser uma Igreja em saída, comprometida com a justiça social, com a evangelização libertadora e com a dignidade da vida humana em todas as suas dimensões. Com os olhos e o coração voltados aos clamores dos pobres, das periferias e da Casa Comum, acolho também o apelo do Papa Francisco à fraternidade universal e à conversão ecológica: “Tudo está interligado, e por isso requer uma preocupação com o ambiente unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um constante compromisso com os problemas da sociedade” (LS, 91).
Neste tempo da Páscoa do Senhor, que é fonte de vida nova para toda a criação, elevo a Deus minha prece para que a luz do Ressuscitado ilumine os passos desta amada Igreja Particular. Que a vitória de Cristo sobre a morte renove nossa esperança, fortaleça nosso compromisso e inflame nossos corações com o fogo do amor pascal! Que Ele caminhe conosco, como fez com os discípulos de Emaús, abrindo-nos os olhos para reconhecê-Lo ao partir o pão, e enviando-nos, com coragem e alegria, a proclamar: O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!


Dom Nereudo é bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife

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