Sucot – Tendas Provisórias, Valores Permanentes
A Sucá simboliza a precariedade e instabilidade de nossas vidas e convida a empatia com aqueles que até nossos dias não possuem uma habitação digna

JÁDER TACHLITSKY
O calendário judaico é repleto de festividades. Cada uma delas espelha histórias, tradições e ritos construídos ao longo do tempo.
Em particular, há as assim chamadas Festas de Peregrinação. As que no passado levavam as pessoas a se dirigir a Jerusalém, ao Templo Sagrado, para trazer suas oferendas.
Continuam a ser celebradas até nossos dias, cada qual com suas características próprias.
Temos Pessach, a assim chamada páscoa judaica, que evoca a libertação dos antigos hebreus da escravidão do Egito.
Shavuot, que referencia a chegada do povo ao Monte Sinai com o recebimento das Tábuas da Lei que continham os Dez Mandamentos.
E Sucot, a festa das cabanas, que marca os quarenta anos de vida no deserto, da saída do Egito até a chegada à Terra Prometida de Canaã.
Sucot começou a ser celebrada ao anoitecer da quarta (16/10) e a comemoração se estenderá até o anoitecer da próxima quinta (24/10).
O principal preceito da festividade é construir uma sucá (cabana) e nela habitar ou ao menos vivenciar alguns momentos em seu interior. Assim, procura-se reprisar os difíceis momentos vividos pelos israelitas na precariedade da vida no deserto.
Foi um período muito complexo, sob a liderança de Moisés. O povo havia alcançado sua liberdade, recebido um código de leis para nortear suas vidas, mas ainda não possuía um espírito livre, depois de séculos de escravidão.
Como se costuma dizer, os israelitas haviam saído do Egito, mas o Egito ainda habitava neles.
Fazia-se necessário uma renovação geracional, daqueles nascidos no deserto, que não tinham passado pelo trauma da escravidão, que cresceram enfrentando os desafios dessa jornada, e que estariam prontos para iniciar uma nova vida em uma nova terra.
A sucá, que a cada ano é construída nesse período, deve ser simples, coberta de folhagem, que permita avistar o céu, deixar entrar os raios solares e até a chuva. Simboliza a precariedade e instabilidade de nossas vidas e convida a uma empatia com aqueles que até nossos dias não possuem uma habitação digna.
Dentro da sucá todos são iguais, independente de qualquer condição prévia.
A sucá tem sua parte frontal totalmente aberta, convidando todos para que possam entrar e compartilhar esta vivência.
Aquele povo de escravos libertos precisou de quarenta anos para o direito de vivenciar uma nova experiência em sua pátria, que veio a se tornar a terra de Israel. O povo judeu, num momento posterior, viu-se expulso desta terra e teve que aprender a conviver numa diáspora durante quase dois milênios.
Verdade que sempre uma parcela do povo continuou lá residindo, mas a grande maioria já não mais se encontrava lá.
E durante gerações e gerações viveu em diversos países. Mas assim como no tempo das moradias provisórias, as sucot, sua vida foi instável, incerta, perigosa.
No final do século XIX intensificou-se o movimento de migração de judeus para a sua terra ancestral. Virou um movimento político, o Sionismo, que pregava o direito e a necessidade do povo judeu voltar a ter sua autodeterminação. Criar seu estado nacional.
Séculos de espera e décadas de árduo trabalho, levaram a recriação da pátria judaica em nossos tempos: o Estado de Israel.
Com pouco mais de sete décadas de existência, Israel tornou-se um país pujante, moderno, democrático, que investiu fortemente em educação e tecnologia. O retorno à Terra Prometida foi coroado de êxito.
Mas em paralelo, Israel tem convivido com incompreensões, com aqueles que questionam seu direito a existir e trabalham por sua extinção.
Desejamos que o diálogo prevaleça. Que as expressões de fanatismo e de ódio sejam suplantadas pelo caminho do diálogo e do respeito mútuos.
Que todos os povos da região possam conviver em paz, harmonia e colaboração.
Uma oração judaica traz o trecho “Ufrós alênu sucát shelomêcha”, que o Eterno estenda sobre nós a tenda da Sua paz.
Que assim seja! Amén!
Jáder Tachlitsky Jáder é economista, professor de Cultura Judaica e História é economista, professor de Cultura Judaica e História Judaica e coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco