Aborto: Holocausto Silencioso
Nada justifica o aborto; nenhuma circunstância, por grave que seja, uma vez que o aborto, em si, é um ato intrinsecamente ilícito e imoral

PADRE BIU DE ARRUDA
O Brasil está em ebulição por causa do teor do PL 1904. Basta abrir as redes sociais, ler os sites de notícias para ver as opiniões diversas: contra e a favor. Para alguns, o PL escraviza, amordaça a mulher. Dizem que ele ressurgiu do medievo. Para outros, é proteção que o nascituro precisa, visto que depois de 22 semanas gestacionais já há possibilidade de vida extrauterina. Por isso, nada de assistolia fetal. Diante de tal situação, é preciso colocar os pés no chão e agir com a reta razão. Urge respeitar o direito primário do qual todos os outros dependem. O direito à vida, na sua inviolabilidade e sacralidade.
O aborto é uma ação de natureza deletéria. Nenhum poder humano pode arvorar-se no direito de deliberar a morte de um inocente que nunca seria um injusto agressor. Sem olvidar que a situação é tão grave que os defensores de tal prática recorrem a uma terminologia ambígua: interrupção da gravidez, tentando assim, suavizar a atrocidade que é o aborto. Aborto é matar um ser humano indefeso, sem a mínima possibilidade de recorrer à legitima defesa como direito sagrado. E aqui, é bom lembrar que a partir da concepção, inaugura-se uma vida humana que nunca seria humana se não fosse desde aquele momento; com DNA próprio, tipo sanguíneo, digitais etc. Isso é um “dogma” da Biologia e não da Religião.
Ninguém nasce pronto. Tudo acontece por estágios biológicos. E cada um necessita de que seja respeitado, visto que a célula ovo não é diferente na essência, do zigoto, como também do embrião. E assim igual ao feto. É a mesma e única pessoa humana, trazendo, em si, as digitais do Criador; visto que “desde o ventre materno, o homem pertence a Deus que perscruta e conhece, que o forma e plasma com suas mãos” (Evangelium Vitae, n. 61). E aqui deve ressoar em nossos ouvidos as palavras do profeta Jeremias, quando assim pontificou em relação ao mistério da vida: “antes que fosses formado no ventre de tua mãe, eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, eu te consagrei, e te constitui profeta entre as nações” (Jr 1, 4-5).
Nada justifica o aborto; nenhuma circunstância, por grave que seja, uma vez que o aborto, em si, é um ato intrinsecamente ilícito e imoral. Contraria a lei natural e a própria razão. Determinar quem pode nascer ou não se configura eugenia. Já pensou se todas as crianças que nasceram com a trissomia 21 não tivessem tido o direito de nascer respeitado? Com certeza, muitos lares estavam tristes hoje. Nada garante que, se for liberada a assistolia hoje, amanhã não seja usada outra técnica de natureza mortífera, para praticar o aborto. É como se fosse uma perseguição interminável a quem não pode se defender.
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É preciso gritar: um mal não sana outro mal. Praticar aborto na mulher, lugar sagrado para gerar a vida, não elimina o trauma da violência sofrida por ela. E aqui – como padre – posso inferir que já atendi tantas pessoas que praticaram o aborto quando eram jovens que nunca se libertaram do trauma. Carregam na alma esse “carma”. Os traumas psicológicos jogam essas pessoas no banco do sentimento de culpa o tempo todo. Demonstração inequívoca de que a prática do aborto não é o caminho justo para decidir quem pode ou não nascer. Afinal, são duas vidas que merecem toda atenção.
Por essa razão, falar de Direitos Humanos sem respeitar a vida intrauterina como se fosse diferente da extrauterina, configura desonestidade intelectual. Defender que o aborto é questão de saúde pública não passa de sofisma. Saúde pública é o Estado acabar com as filas do SUS, dando assistência digna às pessoas de parcos recursos econômicos. Urge defender a cultura da vida. E mais: se a vida intrauterina tivesse a mesma proteção da desova dos quelônios, já era suficiente. Deixe a criança nascer. O aborto não é a solução.
Padre Biu de Arruda é o pároco da Paróquia de Santa Luzia na Estância e da Arquidiocese de Olinda e Recife