A Doutrina Espírita e a Reencarnação

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Publicado em 30/04/2023 às 0:00

UBIRAJARA TAVARES DE MELO

Um dos assuntos mais importantes tratados na doutrina espírita é a reencarnação. No Livro dos Espíritos, a primeira obra da codificação publicada por Allan Kardec em 18 de abril de 1857, o assunto é abordado e explicitado devidamente.


No entanto, quem se debruçar sobre a história da civilização verá que a reencarnação sempre foi assunto tratado há milhares de anos, daí porque é um equívoco pensar que o espiritismo a instituiu, ainda que esta seja um postulado básico da doutrina espírita.


Uma das mais antigas referências à reencarnação está na religião védica, um dos ramos do hinduísmo. Os Vedas são coleções de textos religiosos dos Árias, emigrados para a Índia, cuja formação se estendeu por vários séculos com início por volta de 1000 a.C.


Da leitura dos textos dos Upanishads, do Código de Leis de Manu e dos Puranas, vê-se uma relação entre a doutrina da reencarnação e a teoria do carma. Hoje ainda, mais de um bilhão de indianos, que aceitam o hinduísmo como religião, adota a tese das existências sucessivas, naturalmente.


Também no budismo, que se baseia na análise do sofrimento, a reencarnação expressa tanto o sofrimento como também a chance de superá-lo. O próprio Buda é considerado como o perfeito que, depois de muitas reencarnações, numa ascensão espiritual contínua, pode ingressar no Nirvana.


Na Grécia antiga, por volta do século 16 a.C., textos fazem menção à reencarnação na doutrina órfica, tese defendida por Herótodo. Segundo Pitágoras, as almas são imortais e percorrem forçosamente um ciclo que também compreende o reino animal, entre os vários e sucessivos renascimentos; flutuam pelo espaço até que ingressam noutro corpo. O parentesco entre todos os seres suscitou em Pitágoras uma atitude gentil para com os escravos, mulheres e todas as criaturas.


No próprio Evangelho, Jesus menciona o fato das vidas sucessivas, como se vê em Marcos cap. VI, v. 14, 15 e em Lucas cap. IX, v. 7, 8, e 9. Orígenes de Alexandria, um dos fundadores da Igreja Cristã, por volta de 185 d.C., defendeu abertamente a existência da reencarnação.


Hoje em dia com a evolução da ciência, especialmente com a moderna física das partículas e a mecânica quântica já não é um disparate atualmente, discutir em torno da pretensão científica do espiritismo. Acabou o limite entre a física e a metafísica quando o átomo deixou de ser indivisível e a ciência oficial passou a aceitar a luz como uma entidade de dupla face, ora de natureza ondulatória, ora corpuscular. Niels Bohr, um dos maiores físicos do século, não se afastava de um símbolo zen e é justamente a mecânica quântica que demoliu a materialidade da matéria de vez ao defender o conceito indeterminista de que é impossível dizer onde as coisas estão em um dado momento.


Assim, uma só existência corporal é manifestadamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. Para cada nova existência de permeio à matéria, entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é, assim, um passo avante no caminho do progresso.


É importante considerar, entretanto, que o estado corporal é transitório e passageiro. É no estado espiritual, sobretudo, que o Espírito colhe os frutos do progresso realizado pelo trabalho da encarnação; é também nesse estado que se prepara para novas lutas e toma as resoluções que há de pôr em prática na sua volta à Humanidade.


Não é demais lembrar o grande Confúncio que dizia aos seus discípulos: “Quando nascestes, todos sorriam, e só tu choravas. Procuras viver de maneira tal que, quando morreres, todos chorem e só tu sorrias.”

Ubirajara Emanuel Tavares de melo é advogado, membro da OAB-PE e do Núcleo Espírita Investigadores da Luz

 

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