No sétimo mês do ano desejamos "shaná tová umetuka" (um ano bom e doce). Na noite do dia 18 de setembro de 2020 comemoraremos o Rosh Hashana (tradução literal cabeça do ano) - e sairemos de 5780 para 5781. Para a mishná (tradição oral judaica) temos quatro comemorações de "ano novo", sendo esta a festa da transformação, onde se comemora a criação do homem. Dez dias após o Rosh Hashaná é o dia mais sagrado para o judaísmo: o Yom Kipur (dia do perdão), que neste ano inicia ao anoitecer do dia 27.09. Este é o dia de selarmos nossas reflexões sobre o ano que passou e de nos aperfeiçoarmos internamente para o ano que está por vir. Para isto, abdicamos dos prazeres mundanos e fazemos um jejum de 25 horas - sem água, sem comida e em uma jornada de imersão interior. O Yom Kipur está associado ao arrependimento. Para o Talmud, o arrependimento é um dos sete elementos criados antes do universo e está correlacionado ao livre arbítrio. O conceito judaico de liberdade é profundo, uma vez que liberdade é a pessoa ser livre dos seus desejos, dos seus impulsos. Uma pessoa é livre quando não faz o que deseja fazer por opção. Está relacionado, também, ao agir e ao expressar. Como disse Adin Steinsaltz: "Um escravo carrega um duplo fardo - é forçado a obedecer ao amo e não tem vontade própria. Assim, uma pessoa que esteja ciente de sua singularidade e individualidade jamais pode ser escravizada".
Durante a nossa vida terrestre somos seres livres para escolher os nossos caminhos. Somos seres livres para escolher entre o bem e o mal. Em consequência, uma vez que temos esta liberdade estamos vulneráveis ao erro. Quando se fala de arrependimento fala-se de crescimento, entendimento e evolução. Da mesma forma que podemos errar, podemos nos afastar deste erro. O arrependimento vem antes da criação do universo, para sabermos que para Ele temos a chance de retornar. Afinal, o arrependimento não pode mudar o passado, mas pode mudar o futuro.
Um ponto encantador do Rosh Hashaná e do Yom Kipur é que, na perspectiva judaica, não houve apenas uma criação do mundo. A cada ano há uma nova criação e com isto é nos dada uma nova chance. No final do dia 28 de outubro não estouraremos uma champagne e não faremos contagem regressiva. Com a primeira estrela da noite, e após o toque do shofar, poderemos novamente comer e mais uma criação foi selada. Mais do que isso, nós finalizaremos um período de 40 dias de reflexão em busca de sermos pessoas melhores no ano que está por vir. Quando refletimos diante do amor e da justiça, a empatia e os relacionamentos se aprimoram.
O Talmud nos ensina a importância da fé e da saúde espiritual. Elas são tão importantes que, inclusive, auxiliam na imunidade física. Hoje nos encontramos em um marco histórico, onde tem a reconfiguração dentro de suas premissas. Assim vejo que os melhores votos que posso desejar - além deste redescobrimento e reencontro (de cada um consigo) - são saúde, sabedoria e um shaná tová umetuká v'gmar chatimá tová. Um ano bom, doce e que possamos ser inscritos e selados no livro da vida. Que cada um - e que o nosso mundo - se reencontre em 5781. Amém!
Iara Margolis é Engenheira de produção, com Mestrado em Engenharia Mecânica e Doutorado em Design Emocional. Autora e Professora universitária.
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