Tarifa de 50% ultrapassa todos os limites e inviabiliza comércio com EUA, diz Associação de Comércio Exterior
O presidente da AEB, uma associação de empresas que realizam comércio exterior, diz que esperava uma elevação, mas para no máximo 20%

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*Com Estadão Conteúdo
A tarifa de 50% que o governo americano promete cobrar dos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto inviabiliza o comércio de manufaturas com os Estados Unidos, comenta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Ele diz que as empresas, numa primeira reação à medida, devem suspender vendas aos Estados Unidos, até que se tenha uma definição sobre a tarifas. Conforme Castro, agora é a hora de a diplomacia entrar em campo na tentativa de reversão.
Apesar da agressividade da política comercial do governo Donald Trump, o anúncio desta quarta-feira, 9,foi recebido com perplexidade. Ao invés de ficar no piso das tarifas (10%), como chegou a anunciar o presidente americano no dia do tarifaço, 2 de abril - o que na época, trouxe alívio a exportadores -, o Brasil vai pagar a taxa mais alta para entrar nos Estados Unidos observa Castro.
COMÉRCIO EXTERIOR
O presidente da AEB, uma associação de empresas que realizam comércio exterior, tanto exportações quanto importações, diz que esperava uma elevação da tarifa, mas para no máximo 20%. Os 50% estavam fora de cogitação. Além do impacto direto nos embarques aos EUA, a tarifa máxima transmite uma imagem negativa aos demais parceiros comerciais, avalia Castro. "Deixa a impressão de que o Brasil cometeu algo gravíssimo e que, por isso, está sendo penalizado. Na dúvida, ninguém vai querer fazer negócio com a gente. É um cenário que ultrapassa todos os limites."
Segundo Castro, os produtos manufaturados, que já têm dificuldades para competir nos EUA, tornam-se praticamente inviáveis no mercado americano. Buscar novos destinos é a estratégia de todas as economias afetadas pelo tarifaço de Trump mas no caso do Brasil, ressalta, essa possibilidade é dificultada pelos elevados custos de produção do País.
MERCADOS AFETADOS
De acordo com Jorge Ferreira dos Santos Filho, economista e professor de Administração da ESPM, a medida deve impactar diretamente setores estratégicos da economia brasileira. “A indústria de base, especialmente a siderurgia, além do agronegócio e do setor têxtil, tendem a ser os mais atingidos.”
Santos alerta ainda para possíveis efeitos secundários sobre os juros e o câmbio. “A percepção de aumento do risco Brasil pode pressionar a curva de juros e dificultar o início da tão esperada queda da Selic no segundo semestre. Se esse cenário persistir, é possível que a taxa permaneça em torno de 15% por mais tempo do que o previsto.”
O economista também projeta uma desaceleração econômica provocada pela queda nas exportações e pelo aumento da aversão ao risco entre investidores internacionais. “Com a fuga de capitais, o dólar tende a subir, já que os investidores passam a priorizar ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro americano, em vez de investir no Brasil.”