Comércio do Recife sofre perdas com as chuvas e varejo de rua é o mais afetado
Em dias chuvosos, setores de moda e papelaria registram queda de até 40% nas vendas, enquanto supermercados e farmácias abrem mesmo com alagamentos

O forte volume de chuvas que atingiu o Recife nas últimas 24 horas causou impactos diretos no comércio da cidade. Com vias alagadas, dificuldade de mobilidade e retração no consumo, o varejo de bens não essenciais registrou as maiores perdas. A Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio-PE) calcula que a redução do faturamento em dias chuvosos pode chegar a 40% em determinados segmentos, como moda, papelaria e artigos esportivos.
“A literatura acadêmica aponta impactos que variam entre 15% e 40%, a depender do segmento econômico e da região analisada”, afirma o economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima. Segundo ele, o consumidor tende a adiar compras que não são de primeira necessidade em função do desconforto e dos riscos trazidos pela chuva. “A elasticidade da demanda em relação ao clima é maior nesses setores. Já alimentos e medicamentos, por exemplo, mantêm vendas mais estáveis”, diz.
Rotina alterada
Além da queda nas vendas, o setor enfrenta problemas operacionais. A depender da localização e do tipo de negócio, lojistas chegam a reduzir o horário de funcionamento ou até fechar temporariamente. “Isso ocorre principalmente em vias com alagamento severo ou quando há risco à segurança de funcionários e clientes”, explica o economista. No entanto, a maioria dos comerciantes ainda tenta manter o expediente normal, especialmente no caso de estabelecimentos essenciais, como supermercados e farmácias.
Dificuldade de acesso
A presença dos funcionários também é afetada. Com avenidas importantes como Boa Viagem, Agamenon Magalhães e a Segunda Perimetral parcialmente intransitáveis, o deslocamento até o local de trabalho torna-se um desafio. “A operação das lojas é comprometida pela redução no efetivo, tanto pela dificuldade de acesso quanto pela diminuição no transporte público”, analisa Rafael.
No Recife, a ausência de dados consolidados sobre o impacto direto das chuvas no fluxo de clientes ainda é um obstáculo, mas observações feitas pela Fecomércio indicam queda expressiva de movimento em dias de precipitações intensas, especialmente no varejo tradicional. “Lojas de rua e ambulantes são os mais prejudicados. Já os shoppings apresentam maior resiliência por oferecerem estrutura coberta e acessos mais protegidos”, ressalta.
Setores beneficiados
Se por um lado há retração nas vendas presenciais, o comércio eletrônico e os serviços por aplicativo registram crescimento durante os temporais. “Há estudos que apontam aumento de até 12% no e-commerce em dias de fortes chuvas. O consumidor prefere comprar com conforto e segurança, sem precisar sair de casa”, explica Rafael Lima. O mesmo vale para os serviços de entrega de alimentos e transporte por aplicativo, que costumam ter maior demanda nesse cenário. “Mas vale lembrar que esses ganhos ocorrem em um contexto de risco, tanto para trabalhadores quanto para consumidores.”
Comércio e serviços no PIB
O alerta sobre os prejuízos ganha ainda mais relevância diante do peso do setor terciário na economia pernambucana. Segundo dados da Receita Federal, comércio e serviços representam 73% do PIB estadual, com mais de 500 mil empresas ativas e aproximadamente 1 milhão de pessoas empregadas, entre formais e informais.
Nesta quarta-feira (14), enquanto os lojistas enfrentavam os efeitos da retração nas vendas, o Recife registrava 167 milímetros de chuva, de acordo com o Centro de Operações do Recife (COP). O volume representa 58% da média histórica de precipitações para o mês de maio e foi o maior acumulado do ano até agora.