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Grupo JCPM 90 anos: Nove décadas de compromisso com o Nordeste

Celebrar nove décadas é prova da capacidade de adaptação e da visão de futuro de um negócio que teve início com uma mercearia no interior de Sergipe

Por Adriana Guarda Publicado em 12/05/2025 às 17:28

O Grupo JCPM chega aos 90 anos acompanhando as transformações no Brasil e recriando sua trajetória. Em um país de capitalismo tardio, se aproximar de um século é uma conquista alcançada por apenas 0,01% das empresas.

Celebrar nove décadas é prova da capacidade de adaptação e da visão de futuro de um negócio que teve início com uma mercearia no interior de Sergipe, em 1935, e, hoje, está presente em quatro estados do Nordeste, com atuação nos setores de shopping, imobiliário, comunicação e um reconhecido trabalho e compromisso social.

A empresa nasceu da visão empreendedora de Pedro Paes Mendonça, que abriu uma pequena mercearia no povoado de Serra do Machado, na cidade de Ribeirópolis (SE) e lançou as bases do negócio familiar que se transformaria no Grupo JCPM.

Filho homem mais velho de Pedro e pertencente à segunda geração da família fundadora, João Carlos Paes Mendonça, 86 anos, representa um ativo simbólico do grupo. Nos 90 anos de história da companhia, ele está presente há mais de sete décadas, desde que começou a ajudar o pai na mercearia, aos 9 anos, e descobriu uma vocação excepcional para o varejo.

Heudes Regis/Especial para o JC
RESTAURO Fotos digitalmente envelhecidas da mercearia de seu Pedro, na Serra do Machado, que foi reinaugurada em 2024 após revitalização - Heudes Regis/Especial para o JC

A presença ativa de João Carlos é, aliás, uma das singularidades do grupo empresarial. Prestes a completar 87 anos, ele ocupa a cadeira da presidência e do Conselho de Administração e exerce o papel de estrategista. Sua liderança se confunde com a identidade do JCPM.

Quem pergunta se ele pretende se aposentar recebe a seguinte resposta: “Espero viver até os 100 anos para continuar discutindo estratégia e expandir o trabalho de compromisso com as pessoas e as novas gerações”, planeja.

Presente nos estados de Pernambuco, Ceará, Sergipe e Bahia, o Grupo JCPM voltou a usar o slogan “Orgulho de ser Nordestino”. Hoje, com 11 centros comerciais na região, a companhia lidera o segmento de shopping centers no Nordeste e está entre os cinco maiores do País.

Em 2022, o grupo organizou seus investimentos sob duas holdings: a JCPM Shopping Centers S.A; responsável pela gestão dos centros comerciais, e a JCPM Participações e Investimentos Ltda., guarda-chuva da Divisão Imobiliária, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), da área de compromisso social e da Quinta Maria Izabel, produtora de vinhos em Portugal.

O presidente-executivo da JCPM Shopping Centers S.A., Jaime de Queiroz Filho, divide a longeva trajetória do grupo em três fases: de 1935 a 1966, depois de 1966
a 2000, e de 2000 até hoje.

“A primeira fase foi marcada pela ousadia. Sair do interior de Sergipe, onde tinha uma pequena mercearia e, em seguida, ir para Aracaju para competir com gente grande foi um passo enorme e que exigiu muita coragem”, avalia.

Chegada ao Recife

Em 1966, João Carlos escolhe o Recife para instalar a primeira loja do Bompreço, que se tornaria uma das maiores redes de supermercado do Brasil, com mais de 100 lojas e 22 mil funcionários.

“João Carlos já conhecia bem o Nordeste e optou por Recife ao invés de Salvador, que também era um polo forte. Aqui já havia grandes redes, mas ele enxergou uma oportunidade. Começou por Casa Amarela, e foi entendendo o mercado, investindo no autosserviço, lidando com desafios de logística e de um arrojado projeto de expansão”, destaca Jaime.

O Bompreço abriu lojas nos nove estados nordestinos, mas também chegou a praças como São Paulo, Espírito Santo e Belém. Depois, o grupo corrigiu a rota da expansão e concentrou esforços no Nordeste. A longa fase de 34 anos no varejo de supermercado foi marcada por desafios no setor e transformações no País.

“Nos anos 1990 vieram os estrangeiros Carrefour e Walmart. Foi um temor grande, porque diziam que eles iam destruir o varejo nacional. Além disso, a instabilidade
dos planos econômicos e a hiperinflação desafiavam a gestão dos negócios”, lembra o executivo.

Não há uma receita única para uma empresa sobreviver por quase 100 anos ‘sem o cansaço do tempo’. As que alcançaram a longevidade têm em comum disposição para mudar e se adaptar às novas realidades.

“João Carlos sempre foi movido a desafios. Quando surge um obstáculo, ele se dedica a encontrar soluções. Sempre com apoio dos irmãos e da equipe. Ele criou condições para o grupo evoluir. Muitas empresas se limitam a um único modelo de negócio e não conseguem se reinventar. Isso afeta a longevidade”, acredita Jaime.

Em 2000, João Carlos vendeu a rede Bompreço ao grupo holandês Royal Ahold, mas sua trajetória ficaria marcada na história da atividade no Brasil, como o empresário que modernizou o setor de supermercados, conquistou o cliente e tirou o sossego da concorrência. Na memória afetiva do povo nordestino, o Bompreço — que virou sinônimo de ‘fazer mercado’ — foi aquele comandado por mais de três décadas por seu João Carlos.

A saída do setor de supermercados inicia um novo ciclo, com a criação do Grupo JCPM — com esse nome — em 2000. O empresário ainda não tinha avaliado onde investir, mas começaram a surgir ofertas no setor de shoppings. Em 1997 já havia adquirido uma participação no Tacaruna.

O dono da mercearia

A história começou assim: Seu Pedro colocou uma mesa na frente de casa para vender pilha, fumo, querosene e açúcar. A banquinha era para ajudar a renda da roça. Tinha acabado de voltar de Pau Preto, um povoado do município baiano de Paripiranga, na divisa com Sergipe. Lá, cuidava de uma fazenda, mas as investidas de Lampião e seu grupo pela região deixaram a vida insegura.

O ano era 1927. Pedro Paes Mendonça decidiu juntar as poucas coisas que tinha, reunir a mulher e os filhos e voltar para sua terra natal: a Serra do Machado. Com o tempo foi fazendo a freguesia e a banca na calçada ficou pequena. Em 1935, abriu a mercearia Pedro Paes Mendonça, marco do surgimento do Grupo JCPM.

João Carlos começou a trabalhar na mercearia aos 9 anos. Na casa da família, as conversas sobre o comércio estavam na sala de estar, na cozinha, na mesa de refeições.

Em 1945 seu Pedro iniciou um movimento de “expansão do negócio”, abrindo uma loja em Ribeirópolis. Seis anos depois, a empresa saiu do interior e ganhou a capital, com a inauguração de um atacado em Aracaju, em 1951. É nesse ponto da história que João Carlos conhece Isaías de Assis Oliveira e inicia uma parceria profissional e uma amizade que já dura 74 anos.

Heudes Regis/Especial para o JC
DEDICAÇÃO Isaias de Assis Oliveira trabalhou no Grupo JCPM de 1951 a 2010 - Heudes Regis/Especial para o JC

“Eu tinha 18 anos e trabalhava nesse atacado em Aracaju quando o pai de João Carlos, seu Pedro, comprou o negócio do meu então patrão, Manoel Andrade. Manoel decidiu ir para a Bahia e queria me levar com ele, mas acabei ficando com seu Pedro”, conta. Hoje com 91 anos, seu Isaías guarda como relíquia uma carteira profissional velhinha, de folhas amareladas, quase puídas, onde se lê a assinatura de seu Pedro Paes Mendonça.

Na sua longa jornada no grupo, Isaías foi homem de confiança de seu Pedro, acompanhou João Carlos em várias empreitadas, cuidou da operação do Bompreço em Aracaju e ajudou a erguer a Fundação Pedro Paes Mendonça. “Com sua enorme liderança, capacidade estratégica e visão de futuro, João Carlos era o combustível e eu a máquina, tocando a execução dos projetos”, diz.

Quando o empresário decidiu procurar terreno para abrir um supermercado no Recife fez viagens junto com Isaías. “Isso foi em 1966. Estávamos em Propriá, no interior de Sergipe, cuidando dos negócios lá. Subimos num fusca velho de João Carlos e comemos poeira na estrada até Recife, numa viagem de cinco horas”, recorda.

Seu Isaías brinca com a idade dos dois para falar sobre o futuro. “Se a minha meta é chegar aos 100 anos, a de João Carlos tem que passar disso”, sorri. Pelo que se percebe, longevidade é tradição por aqui. Esses são só os primeiros 90 anos.

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Carteira de trabalho do Seu Isaías, funcionário mais antigo, assinada pelo Seu Pedro Paes Mendonça - Heudes Regis/Especial para o JC

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