Crédito consignado para CLT: como funciona o novo programa do governo e quais os cuidados
A partir de 21 de março, trabalhadores poderão solicitar crédito consignado diretamente pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital

O presidente Lula lançou nesta quarta-feira (12) o programa Crédito Trabalhador, que vai conceder crédito consignado para todos os trabalhadores do regime CLT. O governo afirma que o objetivo é reduzir o superendividamento, com a possibilidade de contrair crédito com taxas menores de juros.
A medida permite que o trabalhador tenha acesso ao crédito com juros menores do que os cobrados por bancos em empréstimos pessoais. Nessa modalidade, as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento.
“As pessoas vão tomar mais crédito, seja para consumo de bens duráveis ou menos duráveis. Isso vai ser injetado na economia e vai movimentar mais a venda de serviços e produtos. Isso, de alguma maneira, pode ter um reflexo positivo para as empresas e pode gerar mais empregos”, avalia Claudia Yoshinaga, Coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
Em entrevista ao Passando a Limpo desta quinta-feira (13), na Rádio Jornal, Yoshinaga falou sobre como vai funcionar o novo programa do governo federal, os impactos da medida e os cuidados que o trabalhador deve ter ao contratar o crédito consignado.
Como ter acesso ao crédito consignado
Na prática, trabalhadores em regime CLT já podem acessar crédito consignado atualmente, mas isso é limitado a empregados de empresas que têm convênio com algum banco. Para expandir o acesso a todos os celetistas, o novo programa vai utilizar dados do E-social, sistema do governo que unifica as informações dos empregados enviadas pelas empresas.
“A partir do momento que isso é operacionalizado pelo E-social, qualquer empregado que tem registro vai poder ter acesso a essa modalidade, independente da empresa empregadora ter feito esse convênio”, esclarece Yoshinaga.
O acesso ao crédito estará disponível a partir do dia 21 de março. Os empréstimos poderão ser contratados por meio do aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, sem a necessidade de se deslocar até o banco. No aplicativo, o trabalhador terá acesso às opções de crédito disponíveis em bancos privados.
Além disso, a partir do dia 25, será possível fazer portabilidade de empréstimos já existentes em bancos para a nova modalidade, permitindo que o trabalhador pague juros menores nas parcelas restantes.
Garantias
No novo programa, o crédito consignado contratado pelo trabalhador terá como limite a chamada margem de consignação. Essa condição impõe que o empréstimo não pode comprometer mais do que 35% do salário do empregado.
Yoshinaga explica que, enquanto o trabalhador está contratado, as parcelas são descontadas diretamente na folha de pagamento. Mas devido à possibilidade de desligamento da empresa, até 10% do FGTS e o valor integral da multa rescisória de demissão serão usadas como garantia pelos bancos.
“Por isso que existe a expectativa de que essa seja uma modalidade de empréstimo com taxas mais baratas, com taxas menores do que as alternativas de crédito pessoal que já existem hoje”, diz a professora.
Cuidados para não se endividar
Com a facilidade de acesso ao crédito que o programa cria, permitindo que se tome um empréstimo na palma da mão, usando apenas um smartphone, Yoshinaga recomenda cautela na hora de decidir contratar o serviço.
“A proposta é tomar isso como uma oportunidade de melhorar, organizar mais as finanças e não piorar o problema”, alerta, chamando a atenção para os riscos de endividamento no caso de imprudência ao tomar um empréstimo, mesmo com os juros mais baixos que o programa oferece.
“A questão é não se deixar mover por impulso. É importante que a decisão de contrair um empréstimo, seja novo ou seja fazer uma migração, seja baseada numa necessidade, em termos de planejamento financeiro”, adverte a professora. “Porque, de fato, é um dinheiro que pode parecer fácil, por ser uma oferta imediata, mas que tem consequências, vai afetar o contracheque dos próximos meses”, conclui.