Arena 10 anos

Arena Pernambuco completa 10 anos nesta segunda. Há o que comemorar?

Estádio tem condições precárias de funcionamento. O forro do teto do auditório despencou, 75% dos refletores não funciona, os telões estão fora de operação, muitas cadeiras estão quebradas e foi preciso reformar o gramado no início do ano para permitir a realização de partidas de futebol. Governo Raquel Lyra faz festa nesta segunda (22) para comemorar os 10 anos do equipamento

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Adriana Guarda

Publicado em 22/05/2023 às 15:39 | Atualizado em 22/05/2023 às 18:16
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Quem passa pela Arena Pernambuco e vê o estádio monumental, pelo lado de fora, não imagina as condições do equipamento, pelo lado de dentro. Do total de refletores, 75% não funciona. Os telões estão fora de operação. Em janeiro, as partidas de futebol foram suspensas, porque o gramado precisou ser reformado. Metade das catracas está sem funcionar. São muitas as cadeiras quebradas. A operação do auditório está suspensa porque o forro do teto despencou. 

DIVULGAÇÃO

Gramado da Arena de Pernambuco, em janeiro de 2023, estava sem condição de realizar partidas de futebol precisou ser reformado - DIVULGAÇÃO

Mesmo com todos esses problemas, a manutenção da Arena Pernambuco custa R$ 10 milhões por ano ao governo de Pernambuco (dado de janeiro), dinheiro suficiente para construir quatro creches. No relatório de quase 900 páginas, apresentado pela governadora Raquel Lyra (PSDB) em seus primeiros 100 dias de governo, a condição da Arena é apontada. O documento detalha a situação em que encontrou o Estado após a gestão Paulo Câmara.

 

Relatório Governo PE

Arena Pernambuco sofre com problemas de manutenção. Um deles são as cadeiras quebradas - Relatório Governo PE

Apesar da situação do equipamento, a Secretaria de Turismo e Lazer dicidiu comemorar o aniversário de 10 anos da Arena Pernambuco, completados nesta segunda (22). A programação teve início às 13h, com a abertura dos portões. Às 14h, teve início uma solenidade com a participação da governadora e dos secretários de Turismo e Lazer, Daniel Coelho, de Educação, Ivaneide Dantas, e o presidente da Empetur, Eduardo Loyo.

Durante o evento de aniversário foi apresentado o projeto do Centro de Formação Esportiva (CFE), que tem como proposta estimular a prática de modalidades esportivas coletivas e individuais para crianças e adolescentes, oferecendo também educação, saúde e cidadania. De acordo com o governo, será a primeira iniciativa dessa natureza em Pernambuco. A iniciativa vai beneficiar 300 crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. 

Divulgação

Governadora Raquel Lyra paricipou do aniversário de 10 anos da Arena Pernambuco - Divulgação

Além da ação esportiva, o CFE também vai disponibilizar formação continuada para professores da rede, técnicos esportivos e outros. O espaço terá, ainda, aulas de reforço escolar, cidadania e serviços de assistência social e participação familiar. Uma das condições para participar do CFE é estar matriculado na escola regularmente, assegurando assim, o desenvolvimento integral dos beneficiados. 

A comemoração também terá apresentações culturais e esportivas, além do descerramento da placa comemorativa dos 10 anos da Arena Pernambuco e da placa de lançamento do CFE. O evento será encerrado com um coquetel e entrega de brindes aos convidados.

NEGOCIAÇÃO DOS CUSTOS 

No trecho do relatório do governo de Pernambuco que trata da Arena, a nova gestão diz que renegociou os contratos do equipamento. No começo deste ano, o custo de manutenção era de R$ 10.163.693.52 anuais, com pagamento mensal de R$ 846.974,46.

Após as negociações, dentro do plano de contingenciamento do governo, os valores mensais pagos para funcionamento da Arena, a partir do mês de maio de 2023, serão de R$ 696.598,18. Isso significa uma redução de R$ 150.376,28 por mês e uma economia anual de R$ 1.804.515,36 para os cofres públicos. Mesmo com o acordo, o estádio continua sendo deficitário. Segundo o Portal da Transparência, a receita não cobre sequer um terço da despesa.

ARNALDO CARVALHO/ACERVOJC IMAGEM

Ao redor da Arena Pernambuco, nenhum sinal do projeto da Cidade da Copa, que movimentaria a região norte da Região Metropolitana do Recife - ARNALDO CARVALHO/ACERVOJC IMAGEM

ARENA NO MEIO DO NADA

Quando o Recife foi escolhido como uma das 12 cidades-sede da Copa das Confederações (2013) e da Copa do Mundo (2014), o projeto era de que fosse implementada uma Cidade da Copa no município de São Lourenço da Mata.

O projeto, com investimento superior a R$ 500 milhões, previa a construção do estádio Arena Pernambuco (como âncora), além de uma arena indoor, parques, centro de convenções, shopping centers, campus universitário, torres de escritórios e 4,5 mil unidades habitacionais. Toda a Cidade da Copa orbitaria em torno do monumental estádio, com capacidade para 46 mil pessoas.

Passados 10 anos, a Cidade da Copa não vingou. O projeto megalomaníaco não saiu do papel. O que se vê hoje no local é um estádio gigante cercado de mato por todos os lados. Nada de habitacionais, shopping, universidades ou qualquer outro empreendimento. Outros projetos imobiliários e empresariais implantados em função da promessa da Cidade da Copa estão incompletos e precisaram se reinventar para atrair clientes e se manter no mercado, como os restaurantes.

“São 10 anos da Arena de Pernambuco. Um equipamento comparável com os melhores estádios do primeiro mundo. O Governo do Estado tem se esforçado para que a Arena não seja apenas um palco de grandes espetáculos de futebol e grandes eventos, mas também um espaço com ocupação. Com uso para esportes de rendimento para a nossa juventude, nossos estudantes, e a compreensão desse equipamento multiuso como pertencente ao povo pernambucano”, defende Daniel Coelho.

INAUGURAÇÃO E PPP

Inaugurada em maio de 2013, com a presença da então presidenta Dilma Rousseff e o ex-governador Eduardo Campos, jogando bola no estádio, a Arena custou R$ 479 milhões a Pernambuco. O valor do estádio foi contestado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o contrato foi alvo de investigação da Polícia Federal. 

A gestão da Arena começou como uma parceria público-privada (PPP) com a Odebrecht, mas a empresa pulou fora do contrato porque a receita esperada nunca foi alcançada. Sem disposição para perder dinheiro, a Odebrecht (uma das maiores operadoras da operação Lava Jato) rompeu o contrato com o governo de Pernambuco em junho de 2016. Além de bancar o déficit do estádio, que não se paga, o governo ainda teve que arcar com o pagamento de uma indenização de R$ 246,8 milhões à Odebrecht.

A Arena continua gerando prejuízo e o governo tenta conceder o equipamento a outro empreendedor, mas por enquanto, não apareceram interessados. A nova gestão conseguiu negociar uma redução nos custos de manutenção e tenta atrair mais eventos para o espaço mas, por enquanto, o estádio continua sendo uma obra gigante no meio do nada e uma operação deficitária para Pernambuco. Há o que comemorar?   

 

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