O emprego informal ainda não foi retomado no Brasil sob a pandemia do coronavírus, e isso não é bom sinal sobre o estado da economia. Apesar da flexibilização das medidas de distanciamento social, a informalidade encolheu no trimestre encerrado em julho, segundo a pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) Contínua, divulgada pelo IBGE nesta quarta (30).
Na comparação com o período de maio a julho de 2019, o total de informais caiu 20%. Neste ano, 30,6 milhões de pessoas atuavam sem registro formal. Um ano antes, eram 38,6 milhões.
Como o emprego com carteira também não reagiu nos dados da pesquisa do IBGE, isso indica que, até julho, a procura por emprego ainda não tinha sido retomada.
Dados oficiais do mercado formal, divulgados pelo Ministério da Economia também nesta quarta (30), mostram saldo positivo de vagas para julho e agosto, mas os dados não são comparáveis com os do IBGE porque as pesquisas têm metodologias distintas.
A força de trabalho (somatório de pessoas trabalhando e buscando ocupação) ainda registrou queda de 6,8% na comparação com o trimestre anterior. Esse encolhimento, que já vinha sendo registrado nos meses anteriores, pode ter mascarado a taxa de desemprego. Em 13,8%, ela já é recorde na série história da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
Para o IBGE, são informais aqueles que trabalham no setor privado sem carteira e sem CNPJ, e incluem domésticos, empregadores, trabalhadores familiares e por conta própria.
Na avaliação do economista Cosmo Donato, da LCA Consultores, nos primeiros meses da crise sanitária, as restrições e quarentena tiveram um efeito duplo, ao tirar o informal da ocupação, ao mesmo tempo em que ele deixou a força do trabalho. "A queda na população ocupada no mês de julho já não é mais puxada pela informalidade. No começo, esse informal não tinha como trabalhar. Agora, a crise começa a se espraiar", analisa.
Com a flexibilização, era de se esperar que o emprego informal começasse a crescer. "A informalidade caindo é um sinal negativo para o mercado de trabalho. Na crise de 2015 e 2016, a informalidade foi o grande colchão mantenedor. Foi ela quem garantiu renda às famílias", diz o economista.
EFEITO AUXÍLIO
O pagamento do auxílio emergencial pode ter contido essa volta ao mercado. Para os beneficiários que começaram a receber os R$ 600 ainda em abril, o valor cairá para R$ 300 a partir de outubro.
O economista Marcos Heckser, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também vê uma tendência de aceleração na informalidade a partir da redução no valor do benefício.
"Perdendo o benefício de R$ 600, as pessoas serão pressionadas a voltar a buscar emprego e parte delas vai para a informalidade", afirma. A outra parte deve acabar no desemprego, o que, segundo Heckser, deverá elevar a taxa acima dos 15% já em setembro.
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