Kibon fecha fábrica no Estado

DESINVESTIMENTO Unilever Brasil comunicou que começa a transferir, este mês, sua produção de sorvete para Valinhos, em São Paulo

Adriana Guarda
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Publicado em 02/09/2020 às 2:00
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O anúncio foi feito durante uma reunião virtual, por conta da pandemia. Estavam presentes representantes da empresa, do sindicato da indústria e do sindicato dos trabalhadores do setor de sorvetes. Depois de 21 anos em Pernambuco, a fábrica de sorvetes da Unilever em Jaboatão dos Guararapes será transferida para Valinhos, em São Paulo. A mudança começa a partir deste mês e seguirá, num processo gradual, até o final de 2021. A notícia foi recebida com preocupação pelos trabalhadores, diante da explosão do desemprego gerada pela crise do novo coronavírus. Ao longo deste ano, o Estado voltou a viver uma escalada na taxa chegando a 15% no segundo trimestre deste ano, de acordo com o IBGE.

A companhia diz que a saída da operação de sorvetes do Estado é uma decisão estratégica. "A empresa, que avalia constantemente sua operação e estrutura em todos os países em que atua com foco na excelência em qualidade e no desenvolvimento sustentável de seus negócios, tomou a decisão de otimizar suas linhas produtivas, unificando o processo fabril de sorvetes em uma só planta", afirma em nota à imprensa. Hoje, a empresa conta com nove fábricas no Brasil e até então a produção de sorvetes estava concentrada em Valinhos e Jaboatão.

No mercado, a informação é de que, além da forte concorrência de preços que vinha sofrendo no Nordeste, a empresa também enfrentou a queda do consumo na região, fazendo com que boa parte da produção precisasse ser vendida em outras praças, aumentando o custo logístico. Nos últimos anos, o mercado de sorvetes se diversificou muito. Teve a explosão das paleterias mexicanas, a chegada dos gelatos italianos e a movimentação de concorrentes como a rival suíça Nestlé e as audaciosas regionais, Zeca's e Milet, FriSabor.

Ao mesmo tempo em que aumentou a disputa, o consumo não cresceu com o esperado. O consumo per capita permanece na casa de 5 litros por habitante ano e o consumo brasileiro em milhões de litros permanece praticamente estável (veja arte). Durante a pandemia, com as pessoas consumindo mais alimentos em casa as vendas cresceram, mas não se sabe como será o comportamento no curto e médio prazos.

Diretor do Sindicato do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pernambuco, Severino Marcelino da Silva, diz que a presença da Unilever em Pernambuco fazia com que o Estado se posicionasse como segundo maior produtor de sorvetes do País, atrás apenas de São Paulo. "A questão é que o Estado era um grande produtor, mas não era um grande consumidor. Então uma grande parte do que se produzia aqui eles mandavam para outras regiões e isso implicava em um custo de logística elevado. Diante da redução do consumo, do aumento da concorrência e da logística cara, concentrar a produção em Valinhos teria uma lógica financeira. A empresa analisou e verificou que processando lá vai ter mais rentabilidade do que a estrutura aqui. Foi uma decisão empresarial", disse.

Atualmente, o Nordeste representa 19% do consumo de sorvetes do Brasil, contra 52% do Sudeste. O mercado pernambucano não tem um grande número de indústrias. De acordo com o sindicato são 85 empresas, empregando 2 mil pessoas. A Unilever, literalmente, era a maior empregadora do setor no Estado, com cerca de 600 funcionários na unidade de Jaboatão.

DESEMPREGO

O sindicato que engloba o setor de sorvetes e também foi convidado a participar da reunião afirma que a empresa ficou de apresentar um plano para não deixar os ex-funcionários em uma situação difícil. "Eles vão marcar uma nova reunião para detalhar como serão essas ações. A empresa tem entre 500 e 600 colaboradores e esperamos que eles possam ser relocados ou transferidos", diz um diretor, que preferiu não se identificar.

De acordo com a Unilever, os trabalhadores terão um tratamento diferenciado. "É importante reforçar que as fábricas da companhia no estado de Pernambuco, localizadas em Garanhuns, Ipojuca e Igarassu, bem como os Centros de Distribuição em Cabo de Santo Agostinho seguem operando normalmente."

A companhia afirma, ainda, que "para toda equipe de Jaboatão dos Guararapes (PE), a empresa oferecerá um pacote adicional às verbas rescisórias legais de acordo com os anos trabalhados, com extensão do plano de saúde e benefícios por tempo de casa, além de todo suporte necessário neste momento de transição, incluindo consultoria de apoio para recolocação de funcionários e plano de capacitação para treinamentos a serem definidos de acordo com a necessidade do mercado local", garante.

A presença da Unilever em Pernambuco começou em 1991, com a inauguração de uma fábrica de Maizena, Cremogema, Arrozina e produtos da marca Karo, em Garanhuns. Depois a empresa começou a trazer a área de limpeza, com uma unidade de detergente em pó, em Igarassu, em 1997. Em 1999 foi a vez dos produtos da Kibon chegarem em Jaboatão e, por último, a fábrica de Ipojuca em 2005, com produção de amaciantes e itens de cuidado pessoal. Em 2015 teve a assinatura de um protocolo de intenções para a instalação de uma planta em Escada, mas não avançou.

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UNILEVER Então presidente Fernando Fernandez, anunciou em 2016 uma fábrica, mas ficou só na intenção - FOTO:EDMAR MELO / ACERVO JC IMAGEM
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EMPRESA Unilever tem plantas industriais em Igarassu, Ipojuca e em Jaboatão, onde vai encerrar atividades - FOTO:DIVULGAÇÃO

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