Indústria

Unilever transfere fábrica de sorvetes Kibon de Jaboatão dos Guararapes para Valinhos, em São Paulo

Transferência começa agora em setembro e deverá ser concluída até o final de 2021. Com cerca de 600 funcionários, compromete oferecer benefícios-extra aos demitidos

Adriana Guarda
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Publicado em 01/09/2020 às 21:27 | Atualizado em 02/09/2020 às 13:26
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Fábrica da Unilever, em Jaboatão, será descontinuada até o final de 2021 - FOTO: DIVULGAÇÃO

O anúncio foi feito durante uma reunião virtual, por conta da pandemia. Estavam presentes representantes da empresa, do sindicato da indústria e do sindicato dos trabalhadores do setor de sorvetes. Depois de 21 anos em Pernambuco, a fábrica de sorvetes da Unilever em Jaboatão dos Guararapes será transferida para Valinhos, em São Paulo. A mudança começa a partir deste mês e seguirá, num processo gradual, até o final de 2021. A notícia foi recebida com preocupação pelos trabalhadores, diante da explosão do desemprego gerada pela crise do novo coronavírus. Ao longo deste ano, o Estado voltou a viver uma escalada na taxa chegando a 15% no segundo trimestre deste anos, de acordo com o IBGE. 

A companhia diz que a saída da operação de sorvetes do Estado é uma decisão estratégica. "A empresa, que avalia constantemente sua operação e estrutura em todos os países em que atua com foco na excelência em qualidade e no desenvolvimento sustentável de seus negócios, tomou a decisão de otimizar suas linhas produtivas, unificando o processo fabril de sorvetes em uma só planta", afirma segundo nota à imprensa. Hoje, a empresa conta com nove fábricas no Brasil e até então a produção de sorvetes estava concentrada em Valinhos e Jaboatão.  

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No mercado, a informação é de que além da forte concorrência de preços que vinha sofrendo no Nordeste, a empresa também enfrentou a queda do consumo na região, fazendo com que boa parte da produção precisasse ser vendida em outras praças, aumentando o custo logístico. Nos últimos anos, o mercado de sorvetes se diversificou muito. Teve a explosão das paleterias mexicanas, a chegada dos gelatos italianos e a movimentação de concorrentes como a rival suíça Nestlé e as audaciosas regionais, Zeca's e Milet, FriSabor. 

Ao mesmo tempo em que aumentou a disputa, o consumo não cresceu com o esperado. O consumo per capita permanece na casa de 5 litros por habitante ano e o consumo brasileiro em milhões de litros permanece praticamente estável (veja arte). Durante a pandemia, com as pessoas consumindo mais alimentos em casa as vendas cresceram, mas não se sabe como será o comportamento no curto e médio prazos. 

Diretor do Sindicato do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pernambuco, Severino Marcelino da Silva, diz que a presença da Unilever em Pernambuco fazia com que o Estado se posicionasse como segundo mais produtor de sorvetes do País, atrás apenas de São Paulo. "A questão é que o Estado era um grande produtor, mas não era um grande consumidor. Então uma grande parte do que se produzia aqui eles mandavam para outras regiões e isso implicava em um custo de logística elevado. Diante da redução do consumo, do aumento da concorrência e da logística cara, concentrar a produção em Valinhos teria uma lógica financeira. A empresa analisou e verificou que processando lá vai ter mais rentabilidade do que a estrutura aqui. Foi uma decisão empresarial", analisa Silva.

Atualmente, o Nordeste representa 19% do consumo de sorvetes do Brasil, contra 52% do Sudeste. O mercado pernambucano não tem um grande número de indústrias. De acordo com o sindicato são 85 empresas, empregando 2 mil pessoas. A Unilever, literalmente, era a maior empregadora do setor no Estado, com cerca de 600 funcionários na unidade de Jaboatão. 

DESEMPREGO

O sindicato que engloba o setor de sorvetes também foi convidado a participar da reunião afirma que a empresa ficou de apresentar um plano para não deixar os ex-funcionários em uma situação difícil. "Eles vão marcar uma nova reunião para detalhara como serão essas ações. A empresa tem entre 500 e 600 colaboradores e esperamos que eles possam ser relocados ou transferidos", diz um diretor, que preferiu não se identificar. 

De acordo com a Unilever, os trabalhadores terão um tratamento diferenciado. "Para minimizar os impactos da transferência para nossos colaboradores e para a região, o encerramento da operação será realizado em fases, com finalização das atividades no final de 2021. É importante reforçar, porém, que as fábricas da companhia no estado de Pernambuco, localizadas em Garanhuns, Ipojuca e Igarassu, bem como os Centros de Distribuição em Cabo de Santo Agostinho seguem operando normalmente", diz, por meio de nota.

A companhia afirma, ainda, que "para toda equipe de Jaboatão dos Guararapes (PE), a empresa oferecerá um pacote adicional às verbas rescisórias legais de acordo com os anos trabalhados, com extensão do plano de saúde e benefícios por tempo de casa, além de todo suporte necessário neste momento de transição, incluindo consultoria de apoio para recolocação de funcionários e plano de capacitação para treinamentos a serem definidos de acordo com a necessidade do mercado local", garante.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Bruno Schwambach, diz que os representantes da empresa foram bastante transparentes e também comunicaram a decisão ao governo. Questionado sobre a possibilidade de reverter essa saída ele afirmou que a decisão da empresa já foi tomada e que estava baseada numa estratégia empresarial.

A presença da Unilever em Pernambuco começou em 1991, com a inauguração de uma fábrica de Maizena, Cremogema, Arrozina e produtos da marca Karo, em Garanhuns. Depois a empresa começou a trazer a área de limpeza, com uma unidade de detergente em pó, em Igarassu, em 1997.  Em 1999 foi a vez dos produtos da Kibon chegarem em Jaboatão e, por último, a fábrica de Ipojuca em 2005, com produção de amaciantes e itens de cuidado pessoal. Em 2015 teve a assinatura de um protocolo de intenções para a instalação de uma planta em Escada, mas não avançou. 


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