Pandemia num sub financiamento crônico do SUS

Publicado em 09/08/2020 às 6:00
DJAIR PEDRO/SEI
André Longo (ao centro), secretário de Saúde de Pernambuco, fala sobre a projeção dos casos de covid-19 para o Estado - FOTO: DJAIR PEDRO/SEI
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Na última terça-feira, Pernambuco cravou 100 mil casos de covid-19, com mais de 6 mil óbitos. É a maior tragédia que o Estado, a exemplo do Brasil, viveu. Mas o governo do Estado lembra que, em março, o número de mortes foi estimado em 14 mil, segundo a Universidade Jonhs Hopkins.

A letalidade, segundo o secretário de Saúde André Longo, só foi reduzida porque o Estado montou as maiores operações de logística, insumos e equipamentos e de Recursos Humanos de sua história. E isso incluiu aumentar o número de UTIs.

A resposta teria quer ser proporcional para pode salvar vidas, diz o secretário, revelando que, financeiramente, a conta é alta. Foram ofertados 850 leitos de UTI, parte transformando leitos que já existiam em leitos para covid-19, e outros novos, como os do antigo Hospital Alfa. Mas o SUS só habilitou e pagou por 508 leitos de UTI. O Estado ainda tenta habilitar 59.

Esses leitos são os que o SUS dobrou o pagamento de diária de R$ 800,00 para R$ 1.600,00. Para essa despesa, o Estado recebeu R$ 79,2 milhões para suporte a 90 dias de tratamento. O valor estimado pelo estado é de R$ 2.000,00 por diária de UTI.

O valor,segundo Longo, não cobre a despesa. Quando recebia R$ 800,00 por leito de UTI, o Estado bancava R$ 200,00 aos municípios. Para os que habilitaram UTIs para covid-19 e aceitaram colocá-los na Central de Regulação de Leitos o Estado, dobrou o valor para R$ 400,00.

O secretário diz que, com o final dos 90 dias de garantia de pagamentos de leitos de UTI, os estados terão dois problemas: o tempo que o Ministério da Saúde quer para habilitar as UTIs (30 dias) e como ficará a sustentabilidade desses leitos depois da pandemia. A sociedade quer que esses leitos continuem à sua disposição e os Estados terão de pactuar com União para manter, ao menos, uma parte dessa estrutura.

O quadro remete à falta crônica de UTIs no Brasil. A covid-19 revelou que tínhamos apenas 23.000 leitos do SUS. Pernambuco, que foi o segundo Estado a habilitar mais leitos na pandemia, ainda tem apenas 1.048 ou 1,1 para cada 10 mil habitantes. No geral, o Estado tem apenas 1.875 leitos de UTI.

O número de 100 mil casos e mais de 6 mil mortes incomoda ao secretário. Mas ele lembra que Pernambuco tomou a decisão de testar todos os casos graves suspeitos de covid-19. No começo da pandemia, a Secretaria de Saúde determinou que todos os cadáveres removidos pelo IML e pelo Serviço de Verificação de Óbitos deveriam passar pelo teste RT-PCR, se fossem relatados como suspeitos de covid-19. Isso elevou a média de Pernambuco.

André Longo justifica a operação de ampliação das UTIs. A diferença da covid-19 para qualquer outra, diz, é que a doença chegou de uma forma que colocou de joelhos todas os grandes sistemas. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e no próprio sistema inglês.

Então, tínhamos que agir. Mas ninguém estava preparado e, no Brasil, a doença chegou com mais força que noutros e também antes em alguns estados, como Pernambuco, que tiveram que se preparar no curso da doença.

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